Toda quebra de paradigma divide as pessoas entre os entusiastas da novidade e os apegados à velha ordem e quase nunca se vê muita reflexão entre os defensores de uma ou outra corrente.
Na maioria das vezes parece só que se você escolheu um time, deve fechar com ele e defendê-lo cegamente até a morte.
Penso em dois colegas de trabalho com quem costumo discutir esse bobajada homem-mulher e chorar meus relacionamentos falidos.

O primeiro se orgulha da própria macheza como se houvesse algum mérito em ser meramente portador de um pênis. Mas há alguma doçura na forma em que se recusa terminantemente a dividir a conta no bar e explanar suas inseguranças. Ele diz que é fruto da criação tradicional que recebeu e que simplesmente não consegue pensar nos gêneros como pares. Para eles, é dever do homem prover e proteger. A mulher só precisa ser submissa e ter bunda grande.

O outro se define como um homem do terceiro milênio: lava louça, cozinha, chora, discute a relação e ouve a namorada em todas as questões. Nem esquenta a cabeça se a mulher ganha dez vezes mais do que ele. Tudo se resume , em seu conveniente ponto de vista, a uma evolução natural da qual o antenadíssimo
macho beta não pode ficar de fora.
Eu fico cá pensando com meus botões, talvez pregados por um homem,no quanto as mulheres que sempre almejaram uma posição, digamos, mais
alfa nas relações, têm mesmo para comemorar.
Minha ex-analista dizia que muitas de nós não encontram um par justamente por isso. Se já tá tão difícil conseguir um homem qualquer o que dizer então de um que ganhe mais do que você?
Aparentemente, até o sucesso trabalha contra a mulher, restringindo radicalmente suas opções a não ser que ela ceda ao talvez fofíssimo
homem-beta.
Bom, eu já estive lá, e não foi só uma vez. Posso falar por experiência própria. Nunca vi homem que chora prestar. Me desculpem. Ele pode existir, mas eu não conheço. E se eu conhecer eu acho que vou brochar de qualquer forma.
Mesmo entendendo que a maioria dos papéis desempenhados por homens e mulheres ao longo da História foram culturalmente construídos não sei até que ponto podemos nos livrar do peso dessa carga.
Para mim, seria meio como abandonar algumas práticas de higiene, igualmente adquiridas através dos meus antepassados.
Mas nem por isso a gente precisa gastar uma linha sequer para falar de como o
macho-alfa também se tornou obsoleto.
Talvez esteja faltando mexer um pouco a receita para acretar o ponto do meio-termo.
Será que é muita ousadia sonhar com um homem 100% heterossexual ( minha ex-analista também dizia que isso não existe...) que não seja tão óbvio em suas atitudes ou uma aberração oriunda da patrulha politicamente correta que veta espontaneidade a todo e qualquer ser humano?
Ou é só mesmo
coisa de mulher essa mania de estar eternamente insatisfeita?
Ao menos os sapatos eu sempre encontro no meu número e na cor que eu quero.