Thursday, August 31, 2006

Falta de assunto

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Um amigo meu surgiu com uma expressão fabulosa para designar aqueles revivals de relações antigas que acontecem em momentos em que o universo parece conspirar contra qualquer chance de se conhecer alguém novo. Basicamente, se a fila não anda, a tendência é que ela retroceda mesmo. Por pura "falta de assunto".

Não que isso seja de todo mau. Em momentos de privação total (de sexo e de bom senso) é bom relembrar o conforto de um carinho conhecido, de uma intimidade qualquer...afinal, como diz a canção, "paixão antiga sempre mexe com a gente" e não nos faltam exemplos de belos romances que adquiriram liga definitiva após uma recaída em período de seca e de ocasional falta de assunto: Ross e Rachel, Edmundo e o Palmeiras...mesmo a volta de Sonia Braga às novelas parece motivada por essa mesma sensação de vazio, um pressentimento chato de que nada vai acontecer aquele dia.

A falta de assunto é corriqueiramente conhecida por nomes igualmente criativos: foda fixa, pau amigo, peguete, ficante. É uma síndrome que já acometeu mulheres do quilate de Liz Taylor ( casada duas vezes com o mega-gato porém alcoólatra Richard Burton) e que já foi cantada por Gabriel, o pensador em versos tocantes como "tá na hora de molhar o biscoito".

No entanto, nada é tão representativo desse fenômeno da vida moderna quanto algumas trocas de scraps pelo Orkut:

"Te achei. Te add. Tá morando lá ainda?"

"Não, tô morando sozinha agora."

"Isso é bom, hein?"

É claro que na qualidade de mulher-talismã, alguns luxos e lixos me são negados. Todo ex- qualquer coisa que eu encontro pelo Orkut casou ou tá namorando firme. Muitas vezes engataram relações imediatamente depois de mim. Não entendo bem o poder devastador do fator Andrea, mas preciso encarar esse dom como uma benção, como se eu pudesse, de alguma forma tocar os corações duros de homens que, sem passar por mim, estariam fadados à solidão eterna.

No meus scrapbook pinta coisa mais ou menos assim:

"Ah, não vai dar pra ir ao seu aniversário. É aniversário do Bruninho também, lembra? Dois anos!"

"Não perderei essa festa. A Lu tá louca para te conhecer. Falo muito de você para ela."

Eu fico cá comigo imaginando o que é que ele fala de mim para ela: "Ah, depois que eu conheci essa maluca resolvi que é melhor dar um tempo, o mundo das relações sem compromisso anda muito perigoso...". Enfim, reencontro via Orkut quase sempre acaba na constatação de que você não tem mais mesmo assunto algum com as pessoas que você beijou no passado. Ou mesmo com sua ex-turma de escola.

Aliás, a Warner produziu uma série muito badalada sobre um desses grandes reencontros. Apesar do mega-lançamento digno de toda pompa e circunstância, Reunion não passou do décimo terceiro episódio e nunca saberemos quem matou Samantha. O pior, que me perdoem os fãs, é que nem dá para se importar. A trama era instigante até mais ou menos 1991, mas depois dali a coisa foi caindo num marasmo sem tamanho.

Relacionamentos requentados são meio como Reunion. No começo parece perigoso, misterioso e eletrizante, mas quando vira rotina, há um grande risco de que a dignidade se perca no processo. Há que se manter alguma esporadicidade ou acabamos por nos flagrar, numa tarde de tédio, a procura de grandes significados onde a única explicação é a total e absoluta falta de assunto. Melhor mudar de canal correndo!

Essa conversa me leva a um daqueles momentos definidores na fila do supermercado, onde um interessantíssimo espécime masculino me olhava de maneira ao mesmo tempo curiosa e divertida: "Você não mudou nada...". Diante de mim, "an affair to forget" que eu não via desde o século passado e a quem os anos trataram muito bem.

O fato de termos nos tornado vizinhos levou naturalmente ao carioquíssimo "a-gente-tem-que-se-encontrar-pra-por-o-papo-em-dia". Silêncio. Risadas nervosas. Silêncio. Diante da evidente falta de assunto dentro e fora daquela conversa, liberei meu telefone para dar um fim ao constrangimento mútuo.

E assim deu-se início à mesma tediosa reação em cadeia. Acho que "eu te ligo" é a sentença mais feia, deplorável e entregadora de poder de toda a língua portuguesa. O pior da falta de assunto nem é ficar postando listinhas idiotas em blogs, mas conseguir se sentir rejeitado por alguém com quem você nem se importa de verdade.

Ah, esqueci de dizer, ele ficou lindo mas continua um chato!

Feliz dia do blogueiro!


Sei que sou nova na blogsfera, mas resolvi aderir à convocação para que recomendássemos hoje, dia internacional do blog (ou coisa parecida) cinco endereços que freqüentamos.

Desde já aviso que não sei postar links e que a coisa pode não ficar assim tão bonita visualmente, mas o conteúdo eu garanto:

1. Pare a terra que eu quero descer (http://www.blogueana.blogspot.com/), hoje com um post muito louco que tem tudo para agradar aos fãs de quadrinhos. Ou simplesmente a qualquer mortal que cultiva fantasias sexuais protagonizadas por celebridades. Ou ainda a quem curte aqueles diálogos nonsense dos filmes do Tarantino.

2. Olha se eu pudesse entrar na sua vida... (http://www.porumtriz.blogspot.com/) , hoje com constatações deprimentes acerca da justiça divina e a cidade de Estocolmo.

3. Santo Mário Social Club (http://santomariosocialclub.blogspot.com/), ou simplesmente, como ser chique e descolado.

4. Segura que eu bato (http://seguraqueubato.blogspot.com/), pedradas de um amigo mau-humorado que não tem mais paciência para pessoas "medianas". Mas que também sabe ser doce e poético.

5. O homem vira-latas (http://ohomemviralatas.blogspot.com/). Bom, esse blog só aparece aqui em respeito a política de cotas para conteúdo machista. Hoje: "Tipos de mulher para comer".


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Ih...fiz lista de novo?

Tuesday, August 29, 2006

Kit básico para sobrevivência na selva HT

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Agora meus leitores já batem à minha porta indignados com o que presumem ser meu gosto musical. Expliquei bem que não se trata disso. O último top 5 foi inspirado em três sábados seguidos balançando o esqueleto em pistas aparentemente tão diferentes mas que, curiosamente, registraram uma certa recorrência no efeito que determinadas canções têm sobre mulheres sozinhas. Especialmente após o fatídico horário das três da manhã.

Outros leitores reclamam de um certo abuso nas expressões em Inglês. Acham que o texto fica truncado para quem não conhece o idioma e que , aliás, eu deveria ter traduzido os trechos de letras da Madonna, da Britney e das PCD. Não interessa o quanto eu diga que essas letras não valem nada.

Já meus amigos homens-ht têm reclamado com razão. Esse blog tá mulherzinha-frustrada demais e todo samba de uma nota só tende a cansar com o tempo.

Mas nada se compara à revolta com que os leitores receberam os top 5 em seqüência. Não importa o quanto eu justifique dizendo que são complementares ao post sobre novela ou expressando toda a minha admiração pelo livro Alta Fidelidade de Nick Hornby. Ninguém aguenta mais ler listinhas por aqui.


Levando em consideração as top 5 críticas dos meus leitores prometo evitar listas e maneirar no tom Carrie Bradshaw, mas não sem antes me despedir dos dois com uma última campanha pelo bem estar feminino a partir de alguns ítens que fizeram toda a diferença para mim:

1- DVD Sex and the city (primeira temporada completa). Basicamente TODA a verdade da vida está aí. Acho que toda menina já viu ou se viu em um ou mais episódios. Bom seria mesmo que os garotos assistissem.

2- O livro Ele simplesmente não está a fim de você mudou a minha vida completamente. Os autores dissecam as principais desculpas e atitudes que a gente teima em tentar entender quando a gente não quer enxergar a verdade dura e cruel: ele realmente tem medo de compromisso e não quer namorar...VOCÊ.


3- O CD Confessions on a dance floor, da Madonna serve pra muita coisa: refletir sobre relacionamentos falidos, esperar um telefonema ao som de Hung up ou simplesmente se animar para chegar à idade da deusa com aquele corpo.

4- O site da Teoria Pedestáltica (http://www.pedestal.cjb.net/) propõe um olhar revolucionário sobre as relações amorosas a partir da música pop. Vale revisitar sempre que der vontade de agir como um adolescente creep e "pedestalizar" quem não merece.

5- O blog Homem é Tudo Palhaço (http://www.tudopalhaco.blogspot.com/) já é, pelo título, auto-explicativo. Realmente não há limites para as pisadas de bola masculinas. Mas é sempre bom saber que não acontece só com a gente.



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Mas o que não pode mesmo faltar a uma mulher é uma amiga biba para oferecer perspectiva, bom humor e bom gosto para sapatos. E para NÃO reclamar de sua choradeira de mulherzinha encalhada. Regina Martelli já disse que elas são um acessório imprescindível. Em qualquer estação.

***

Thiago Machado, pus Madonna no topo em sua homenagem. Mea maxima culpa.

Monday, August 28, 2006

Na madrugada...abandonada!

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E a correspondência não para de chegar. Nossa ouvidoria quase não consegue dar conta da enxurrada de e-mails criticando tanto a submissão feminina exposta no post Vou te contaaaaaar... quanto o clima, para alguns, extremamente derrotista da opção pela "mão mais atrevida".

Algumas mulheres solteiras que preferem ficar no anonimato reconhecem as difuculdades, mas reafirmam sua crença nos homens e no amor. Sem se importar se nesse instante são dominadas ou se dominam.

Essas moças são também capazes de quase tudo e não se conformam de ainda assim não terem encontrado uma tampa para suas panelas. Elas exigem um top 5 que retrate as agruras e contratempos que marcam a busca por um homem pra chamar de seu. Anybody could be that guy.Tá valendo tudo desde que elas possam rebolar e cantar sua condição patética. Até porque, no balanço das horas tudo pode mudar. Quem sabe esse lance vai virar um romance e a gente vai namorar?

1. Get together - Madonna:

"Can we get together?
I really, I really wanna be with you
Come on/ check it out with me
I hope you feel the same way too
(...)
It's an illusion/ there's too much confusion
(...)
Do you believe we can change the future?
Do you believe I can make you feel better?"


2. Me chama de cachorra - Tati Quebra Barraco:

"Me chama de cachorra que eu faço au-au/
Me chama de gatinha que eu faço miau/
Se tem amor a Jesus Cristo...demorô
(...)
Eu vou de lado/ vou de quatro
A posição vocês escolhem"


3. Toxic - Britney Spears:

"There's no escape/ I can't wait
I need a hit/ baby give me it
(...)
I'm addicted to you/
Don't you know that you're toxic? "


4. Dontcha - Pussycat Dolls:

"Don't you wish your girlfriend was hot like me?
Don't you wish your girlfriend was a freak like me?
Don't you wish your girlfriend was wrong like me?
Don't you wish your girlfriend was fun like me?"


5. Dessa vez - MC Sabrina

"Estou sabendo que você tá sem ninguém
que terminou o seu romance outra vez
Tá vendo quanto tempo a gente já perdeu?
Já te falei/ ninguém te quer mais do que eu

Baby, o que você quiser eu quero
Tudo o que você pedir eu dou
Faço tudo pelo seu carinho
Deixa eu te mostrar quem sou

E dessa vez vou te conquistar
E se eu te prender meu coração não vai soltar"

***

Sei que a deusa Madonna merecia melhor companhia, mas precisei me ater à realidade dos fatos. Do subúrbio à Zona Sul, só muda o cenário. É sempre cabelinho em coque, olhinhos fechados, dedinhos para o alto e a letra na ponta língua. A esperança em dias melhores se confessa em qualquer pista de dança.

Saturday, August 26, 2006

Fuck music: TOP 5 babadas com o Rei



Os telefones da redação estão congestionados! São centenas de mulheres ligando a cada minuto para expressar sua indignação diante do teor supostamente sexista do post Vou te contaaaaar...

A maioria afirma preferir gozar com Roberto Carlos a passar pelas humilhações narradas no texto. Duas reclamaram da referência jocosa a Wanessa Camargo. Uma das quais diz até ainda acreditar num final feliz para ela e para Dado.

Nenhuma delas afirmou estar interessada em agradar o professor.

Para as mulheres que se orgulham de não se rebaixar segue uma seleção de canções que compoem um manual básico de auto-satisfação:



1. Na vitrola: Cavalgada

Calcinha na mão: “Vou me agarrar aos teus cabelos/ pra não cair do teu galope”


2. Na vitrola: Cama e mesa

Calcinha na mão: “O sabonete que te alisa embaixo do chuveiro”


3. Na vitrola: Café-da- manhã

Calcinha na mão: “ Amanhã de manhã/ nossa chama outra vez tão acesa"


4. Na vitrola: O côncavo e o convexo

Calcinha na mão: “Cada parte de nós tem a forma ideal quando juntas estão”


5. Na vitrola: Como é grande o meu amor por você

Calcinha na mão: "Nunca se esqueça nenhum segundo/ que eu tenho o amor maior do mundo”

***

Aproveitem!

Tuesday, August 22, 2006

Vou te contaaaaaaaar...

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Sou noveleira.

Me batam, me xinguem, me cuspam!

É claro que após tantos anos prestigiando a teledramaturgia brasileira eu hoje me dou ao luxo de assistir novela lavando louça, varrendo chão, falando ao telefone...levantando os olhos apenas para aquelas cenas, cada vez mais raras, em que eu não consigo advinhar o que um personagem vai responder para o outro. Ou quando o Reynaldo Gianechinni aparece.

Sou noveleira de carteirinha, daquelas que sempre sonharam dizer : "Motorista, siga aquele táxi!" ou "É apenas uma cópia, a original está muito bem guardada". Nunca consegui e agradeço a Deus que a cota de drama reservada a mim nessa vida tenha sido sempre muito parca . Nada de cores muito fortes, traições ou chantagens. Uma comedinha boba de Cassiano Gabus Mendes.

Tenho acompanhado Páginas da Vida com grande interesse. Levantando a cabeça das provas ao som das vozes de Lília Cabral, Débora Evelyn e Natália do Valle. Mas acima de tudo, parando TUDO aos primeiros acordes da canção que anuncia as cenas do próximo capítulo. É só ouvir o "Vou te contaaaaaaaaaaaaaaar..." de Wave para eu ficar ligadinha no depoimento da noite. Narrativas de "gente como a gente" que já me fizeram rir e chorar muito. Mas acima de tudo pensar nas páginas das vidas que me cercam e em como eu conheço gente que daria depoimento digno de relegar a velhinha babada ao esquecimento.

Uma aluna minha afirma orgulhosa que mantem o casamento à custa de muita luta. Que mulher que é mulher mesmo "tem que se submeter" e que ela não se importa de sair meia hora antes do fim da aula para esquentar a comidinha do marido.

Tem também a professora de Inglês que assiste a filmes dublados porque o namorado tem preguiça de ler legenda.

Minha vizinha me liga implorando companhia para um jantarzinho japa. Na volta ela corre para escovar os dentes porque o noivo detesta qualquer tipo de comida oriunda do mar e não pode perceber nela qualquer vestígio da nossa aventura clandestina:"Ai, tem certeza que eu não estou fedendo a peixe? Acho melhor eu tomar um banho e lavar a cabeça..."

Eu mesma já me despenquei para Niterói após um sábado de trabalho duro para assistir ao futebol de gêmeos que notoriamente detestavam a nova namorada de papai. Sem contar as noites ao detestável som de heavy metal no Garage.

O amor tem mesmo que se basear em negociação de ambas as partes, mas cada vez mais tenho percebido um certo desequilíbrio que faz com que a balança que regula os relacionamentos penda cada vez mais para o lado masculino. Os homens estão podendo, sim. E muito!

Às mulheres que querem fazer qualquer tipo de relacionamento funcionar cabe cada vez mais ceder, ceder e ceder! Negociar, escamotear, camuflar. Porque está mesmo muito difícil conhecer um homem qualquer. E eu não estou nem falando de homem que preste!

Por outro lado, um macho heterossexual solteiro tem a seu dispor um menu de opções de fazer inveja ao buffet do Galeria Gourmet. Se quiser namorar, namora. Se quiser galinhar, galinha. Se quiser casar em dois meses não lhe faltarão candidatas, não importa o quão duro e despreparado ele seja.

E nessa trama injusta que coloca a eles no topo, seguidos de pertinho pelos machos e fêmeas homossexuais, e a nós lá embaixo, um dado cruel não pode passar despercebido: o cheiro de desespero que mulheres com mais de 30 parecem exalar sempre que se vêem às voltas com a opressão desse grupo dominante.

Por isso é que bom mesmo é ver novela. Sempre tem um par para cada um e quem se comporta bem nunca fica sozinho. Acho que o universo passa por um seríssimo problema de escalação e o resultado disso é que cada vez mais se vê mulheres muito legais que , resistindo bravamente a fazer uso alternativo das canções do Rei, precisam se valer de uma boa dose de cinismo para manterem uma vida sentimental minimamente satisfatória.

Não interessa se ela é linda, cheirosa, gostosa, viajada, estudada ou tudo isso ao mesmo tempo. Sem cama , mesa , côncavo ou convexo à disposição, está valendo pagar de neta de Francisco e sair cantando meio constrangida sempre que um daqueles fantasminhas teimar em ressucitar: "Vou me arrepender depois/mas eu não resisto a nós dois...."

Jamais passarei fome novamente


Ah, os homens são engraçados!

Às vezes a gente dedica 40 minutos de trabalho à produção da maquiagem perfeita, se aperta nos jeans mágicos e quase sempre desconfortáveis, estica a franja até que ela possa disfarçar aquela espinha indesejável para depois, no auge da balada, naquele dia em que você mais precisa ser olhada (é...espinha tem o poder de derrubar a auto-estima de qualquer uma!) nada acontecer.Todos parecem enxergar através , não importam as piruetas na pista de dança ou as poses cuidadosamente ensaiadas diante do espelho.

Nada grita tanto "ACADEMIA" como uma noite dessas. Segunda eu começo. Tênis, toalha, cara-de-pau, um. Água, caneleira, vergonha, dois. Liberdade, enfim. Meu cigarro, mundo lá fora, três. "Gostosa, linda, tesão", quatro. Hã? Como assim? Rosto suado, andar cansado, cabelo em desalinho. É isso mesmo? Gostosa ASSIM? Aparentemente sim!

Meus amigos que moram bem sempre podem alegar razões geográficas para a inconstância dos olhares masculinos na minha direção. A academia é em Caxias, a boate em Niterói, não dá mesmo pra comparar... mas será que a culpa não é ainda da espinha?

Sigam meu raciocínio.

Os momentos que seguiram a malhação foram marcados por uma profunda falta de vontade de impressionar quem quer que cruzasse meu caminho. A minha cabeça a quilômetros de qualquer necessidade de ajeitar o top ou de fazer charme com a garrafa. O único pensamento que passava por mim era: "Preciso de um banho". Só assim eu pareci encantadora aos olhos de quem me via. Porque eu não tava nem aí. Por que eu não achava mesmo possível alguém me olhar naquele estado. Não interessa se a clientela é a peãozada caxiense ou a playboyzada papa-goiaba. O segredo parece residir simplesmente em não se importar. Ou não acreditar. Low expectations can lead you ANYWHERE!!!

Sempre que a gente se empenha muito na vida a tendência é meter os pés pelas mãos.

Igual a uma amiga minha. Seis meses e dez quilos menos depois de ter chegado às vias de fato com um carinha que insistia em povoar suas fantasias , ela (linda, magra e poderosa) se sentiu segura o suficiente para exibir a nova silhueta e ressucitar o affair, sonhando com o impacto que causaria aos olhos do moço como uma criancinha às vésperas do aniversário.

Encontraram-se na casa dela. Nenhuma expressão de espanto da parte dele. Depois de uns amassos embalados a cerveja o primeiro comentário: "Você tá diferente...cadê aquele mulherão? Aquela bunda maravilhosa? Cadê o peitão? Suas coxas sumiram!...ah, eu preferia antes!". Não é preciso ser vidente para imaginar que a noite terminou com sexo muito mais-ou-menos e uma menininha decepcionada, com cara de quem ganhou livro de presente.

A nua verdade é que o mancebo curtia a versão mais encorpada e ela, justamente quando não fazia a menor idéia, agradava sim, e muito!

Talvez os tais misteriosos feromônios só sejam mesmo ativados em ambientes de pura e absoluta naturalidade, sem cobrança por desempenho. Com tensão, não há solução.

No mínimo, a parábola da ex-gordinha ilustra aquele velho clichê de acordo com o qual a beleza vem de dentro e espelha de fato o nosso estado de espírito. E mais, que única coisa que pode seguir uma mega-expectativa é um anti-clímax. E sempre: esconder a espinha de maneira tão feroz é valorizá-la ao extremo. Ela pode parecer aos olhos dos outros (porque pareceu aos seus primeiro) uma tremenda verruga de bruxa.

Sunday, August 20, 2006

Nomes para meu futuro filho

Um nome determina uma porção de coisas na vida da gente. O meu sobrenome, por exemplo, traçou o meu destino de trocadilho ambulante. Batalha, batalhadora, mulher que batalha. Tem gente que me a-do-ra, mas que nem lembra mais que eu sou Andrea.

Tem um casal do Veríssimo cuja relação vai pro brejo supostamente por falta de apelido. Trataram-se a vida toda pelo primeiro nome sem que em qualquer oportunidade tivessem trocado um "mô", um "nem", um "docinho". Aparentemente esses apelidos infames são a cola que mantêm certas duplas unidas por anos. Bem, se eles são capazes de operar milagres desse porte, o nome que consta da certidão de nascimento não pode ficar por menos.

Eu já caí em mim: não posso mais ter filhos porque extinguiram-se todas as possibilidades de dar a eles um nome digno. Simplesmente não há mais nomes decentes disponíveis.

Fui eliminando vários nesses anos no magistério. A quantidade de alunos pentelhos que atendem (é, nem sempre atendem...) pelos belíssimos nomes de "Gabriel", "Diego" e "Thales" não está no gibi. Ah, sim, só nomes de menino, lógico. Se eu tiver filha mulher eu entrego para a dra. Helena na hora.

Quer dizer...eu nunca vou mesmo parir alguém. Acho gravidez uma coisa fofa, mas não me sinto feliz em pensar em seringas e bisturis a dois metros do meu corpo. Imagina bem ali naquela parte do meu corpo. E, de novo, sempre há o risco de nascer menina.

Tem gente que vai logo maldar e pensar que eu pretendo adotar um menino qualquer de mais de 18 anos e mais de um metro e oitenta, mas não é disso que se trata. Sem cinismo algum devo confessar que algumas vezes já me senti em dívida com a vida ( que meu deu tão mais do que eu merecia) e em condições de contribuir para a formação do caráter de uma criança. Mas são sentimentos que esbarram sempre no mesmo entrave: não sobraram nomes para o meu futuro filho.

Antigamente eu sonhava com nomes compostos do tipo Luís Fernando ( Camões + Pessoa) , João Paulo (Lennon + MacCartney), Antonio Carlos (Mussum) que homenageassem os homens que eu mais admirava na vida, mas fui me desiludindo ao descobrir que mesmo as pessoas que não sabiam criar filhos tinham um extremo bom gosto para batizar suas crias impertinentes e mal educadas. Considero isso um primeiro e último gesto de carinho por parte de algumas mães. Essas mulheres escolheram nomes tão lindos que simplesmente deram por encerradas com este nobre gesto as suas obrigações parentais. Assim, roubando os nomes de que eu mais gostava.

Já curti nomes da moda também. "Lucas", "Thiago", "Bernardo"... invariavelmente escolhidos pelas amigas próximas, colegas de trabalho e primas. Não sobrou nada.

Mas nenhum processo eliminatório é tão cruel quanto o estigma que alguns belos nomes como "Gustavo", "Ricardo", "Felipe" e "Alexandre" adquiriram com o passar do tempo. São as alcunhas que nomeiam alguns dos homens que passaram pela minha vida e pela dos meus amigos e amigas. Aí mesmo é que a coisa começa a feder. Devia ser proibido que alguém chamado "Guilherme" ou "Leonardo" pudesse ser capaz de determinadas vilanias. Como é que depois você vai dar um nome desses pro seu bebê?

Talvez a saída seja namorar sempre homem com nome feio. Não por serem melhores. Já fui magoada por um palhaço impublicável. Aquelas misturas de nome do pai com nome da mãe, sabe? Mas pelo menos ficou de bom que eu não queimei mais uma possibilidade de batizar meu rebento.

Quem sabe não é por isso que as mulheres que não se tornam mães jovens ( quando ainda poucos nomes lhe provocam arrepios de horror) acabem desistindo com o tempo diante da real dificuldade de cumprir a hercúlea tarefa de oferecer à sua prole nomes bonitos e luggage-free. Pra quem não liga para isso, "Adolf" e "Osama" até que são bem legais.

Como o meu único compromisso nesse blog é mesmo com a mentira, a partir de hoje, sempre que me perguntarem porque não me tornei mãe a justificativa será essa: acabaram-se os nomes. Uma circunstância alheia a minha vontade. E que não tem nada a ver com a falta de homem no mercado.

MANI FESTA

Sábado chuvoso na Lapa tem cara de roubada. Ninguém na rua e fila para entrar em tudo quanto é lugar. A do Teatro Odisséia ontem quase dobrava a esquina.
Meus amigos e eu encontramos abrigo na festinha que rola toda sexta e sábado no casarão do Tá na Rua. Foi a minha segunda vez por lá , mas só ontem me dei conta de como aquele lugar é legal.
Fora os adereços que emprestam um clima todo carnavalesco ao ambiente praticamente sem decoração alguma, as músicas podem variar , em uma mesma seqüência, de Ney Matogrosso a Danda e Taffarel.
Para quem quer beijar tem gato gringo, gato negão e gato mauricinho. Quem não quer pode se esbaldar em qualquer cantinho sem medo da xepa. Ambiente quase familiar.
R$ 5,00 compram uma pulseirinha que permite acesso irrestrito àqueles que porventura possam temer estar perdendo alguma coisa lá fora, onde aliás, a bebida não é mais barata.
Mesmo com a liberdade que a pulseirinha oferece, a pista estava lotada às duas da manhã. E a minha calça jeans já ensopada de suor. Depois eu conto que efeitos esse samba teve sobre meu corpo...

Friday, August 18, 2006

Quero ser Amanda Woodward!





"Nunca conheci quem tivesse levado porrada./ Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo."






Quem gosta de música, filmes e de literatura sempre se depara com aqueles momentos em que alguém nos encurrala : "Que livro você levaria para uma ilha deserta? Com que autor gostaria de tomar um choppe? Que canção você mais ouviu na vida?". Confesso que essas perguntas me embaraçam. Respondo qualquer coisa e tento mudar o rumo da prosa porque ser definitivo assim sempre implica num preço a ser pago. Você tem ser coerente com aquela opção PARA SEMPRE.

É mais ou menos quando a gente diz "Eu te amo!". Tudo muda. Qualquer outra convicção é negociável. "Ah, mas você disse que me ama, você TEM que me entender, me esperar, blablabla...". Se você diz que AMA Chico Buarque acima de todas as coisas está definitivamente fadado jamais recusar ouví-lo. Se você não está no clima aquele dia, azar o seu. Fã é fã, quem ama ama.

Mas esse preâmbulo não tem muito a ver com o gosto pessoal de A ou B, mas sim com os versinhos que abrem o post. Se alguém me perguntasse de sopetão: "Que obra literária te define?" eu não pestanejaria em apontar o Poema em Linha Reta do Pessoa como a tradução mais perfeita da minha relação com o mundo. Desde que esse texto caiu na minha mão ( e eu era criança e não conhecia a verdade, tinha lá meus treze anos) a minha alma freak encontrou o alívio de compreender que aquele sentimento de inadequação não era exclusividade minha.

E mesmo lá na adolescência eu já achava extremamente misterioso, inexplicável mesmo, que esse mundo repleto de gente astuta e capaz continuasse afundado na merda. Agora então, que o auto-elogio se faz anunciar de forma ainda mais contundente, eu me sinto pra lá de patética. É um tal de "Comigo não" para cá, de "Sou mais eu para lá" ; de "meu potencial", de "eu posso, eu faço, eu causo", "eu-eu-eu-eu..."


A verdade é que o ciclo "vim-esculachei-venci" é sempre narrado por seus virtuais protagonistas e nunca de fato presenciados por nós, pessoas normais e covardes, completamente incapazes da força retórica que invariavelmente enfeita os foras com que nossos confrades aniquilam seus desafetos.

Talvez falte a mim um pouco de Amanda Woodward, a bitch-mor de Melrose Place, mestre em destilar charme e veneno sempre na medida certa, sem perder a classe. Dormindo com todos, gozando muito e lucrando sempre. E, não podemos nos esquecer, acima de tudo, se divertindo às custas dos perdedores ; humilhando os fracos sem atitude que se deixam levar pelas circunstâncias da vida sem fazer com que o mundo siga o rumo certo: girar ao redor desse ser fantástico e especial.

Ninguém é D. Quixote, ninguém é George Costanza. Todos são Amanda Woodward. Líderes. Vencedores. Louros e lindos.

Às vezes desconfio de que as pobres pessoas precisem repetir esses mantras de auto-afirmação para poderem encarar a dureza daquele dia apenas. Talvez mesmo Amanda Woodward, de terninho e saia curta , pisando nos inimigos com o bico fino do sapato chore um pouquinho , depois do expediente , embaixo do chuveiro que seja, para bancar a pose de quem diz: "Eu vou te virar pelo avesso de um jeito que você vai se arrepender de ter nascido!".

No fundo dá é dó de todo mundo porque essa obrigação de ser feliz que tentam empurrar goela da gente abaixo, sozinha, já é dureza de encarar. Só pra dizer o mínimo. Tem que trabalhar, ser bonito e informado, transar muito e , ainda por cima, no fim do dia, posar de bom. Que cansaço! Só de preguiça, vou acabar virando EMO.

"Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"




Acabei de saber

Uma das minhas amigas a também conhecer "um cara ótimo" durante o recesso acabou de levar um homérico pé na bunda.
A coitada nem apaixonada estava, mas achou o cara tão gente boa que trouxe para ele um inocente e vagabundo ímã de geladeira de uma viagem a Buenos Aires. Para ele e para mais umas vinte pessoas.
Foi o suficiente para o homem-teflon acionar seus primitivos intintos anti-aderentes e decretar o fim da relação com base nas expectativas que, acreditava ele, ela estava depositando no futuro nos dois.

O ímã custou R$0,50 .
Para os amigos ela deu alfajores.
Quem ele pensa que é?

NO TATAME




Quem me conhece sabe que a coisa mais próxima de vida matrimonial que eu experimentei nesse fero, seco e estéril caritó foram os dois meses em que dividi casa com meu irmão.
Lavei cueca, reclamei de tampa do vaso levantada, chorei de ver meu iogurte light ser consumido como água, a toalha molhada na cama e os tênis espalhados pelo minúsculo apartamento.
Sim, senhoritas sonhadoras. Conheci apenas o pior do casamento. Sem sexo e sem cobertor de orelha. Mas acima de tudo, devo confessar, aprendi muito. Aprendi horrores. Cada dia uma lição. A cada lição uma revelação mais surpreendente sobre o peculiar e obscuro universo masculino.
Sem esconderijos ou subterfúgios à mão, maninho e eu basicamente compartilhamos nossas vidas sentimentais durante dois meses. Já que eu ouvia todos os telefonemas, ele não podia escapar de opinar a respeito do figurino de sábado à noite.
Aliás, eu vi o mano marcar com duas gatas no mesmo dia e só na hora decidir qual das duas oferecia o melhor programa. Eu até entendia a indecisão, mas o critério não entrava na minha cabeça. Fulaninha era mais gostosa, mas cicraninha tinha amigos mais divertidos. O mais intrigante era ver a mocinha relegada a segundo plano ligando no dia seguinte quase que pedindo desculpas por "ter entendido errado, por ter achado que eles tinham marcado cinema, que tava certo..."
Mas bacana mesmo foi quando ele começou a dar pitacos nos meus relacionamentos (tá....força de expressão). Uma noite eu ia receber uma visita especial e pedi que ele vazasse do ambiente por algumas horas e que tirasse as tralhas dele do caminho que eu não queria que o bofinho visse aquele chinelão ali no meio da sala. Mano me olhou a um mesmo tempo penalizado e divertido: "Deixa, vai te valorizar...mulher de outro é sempre mais interessante!"
Hã? Essa aula eu fiz questão de gravar para rememorar depois. Ela era a conclusão de uma preleção anterior sobre uma mulher "NUNCA, jamais, em tempo algum" poder ligar para um homem em que estivesse interessada. Sim, é assim que pensa um macho de vinte e poucos anos. Igual ao macho de vinte e poucos anos de cem anos atrás que, invocando as mais toscas teorias deterministas, bradava aos quatro ventos que o homem era caçador, que a mulher cuidava da caverna passivamente , que a puta-que-o-pariu e o caralho-a-quatro, etc.
Mas minhas aulas preferidas mesmo aconteciam durante a exibição das comédias românticas às quais ele era obrigado a assistir comigo. No começo ele se irritava, mas depois passou a se divertir com uma espécie de jogo dos dez erros entre um suspiro e outro da mana.
A fala dele sempre começava com uma sonora gargalhada. Daquelas bem gostosas, sabe? Aí começava o bombardeio: "Mas isso é im-pos-sí-vel!"..."Um homem NUNCA vai levar a sério uma mulher que deu no primeiro encontro"..." Um cara NUNCA vai assumir o filho de outro"... "Porra, só sendo muito otário pra levar tanto toco e continuar insistindo. Com tanta mulher disponível, o que ele quer com uma mulher complicada dessas?"... Assim a dura e fria verdade foi se desenhando diante de mim acompanhada de uma igualmente cruel constatação: "Por isso você não se acerta com homem nenhum...tá querendo um sujeito desses? Que vai te esperar pra gozar junto? " E toma-lhe gargalhada!
Um dia ele me pediu pra ver um filme romântico com ele. Mano me levou na lábia vendendo o suposto "conteúdo educativo" da fita que mostrava as relações amorosas a partir de um ponto de vista masculino. Então tá, né? Vai ser bom saber com que os homens sonham, seus desejos, suas aspirações... até que diante de mim, no meu próprio vídeo cassette, começa a ser reproduzido o clássico-porrada O GRANDE DRAGÃO BRANCO, com Jean Claude Van Damme no melhor/pior da sua forma.
Sem entender nada e devidamente "shooshada" pelo mano ( que é fã de verdade desse filme) consegui resistir até a primeira sensacional aparição do mega-vilão Bolo Yeung na cena em que ele massacra o companheiro cabeludo do Van Damme e imortaliza aquele gesto com o dedinho fazendo que vai cortar o pescoço: "Você é o próximo!"
Mano: "Entendeu? Entendeu?"
Aparentemente a cena é uma piada corrente entre os colecionadores a quem meu irmão se associou ao longo da vida. Trata-se de uma metáfora para o tratamento que, na visão desses jovens brutos, todas nós merecemos. O lance é aniquilar uma mulher e já mirar na próxima sem jamais olhar para trás. E ai daquela que oferecer competição. A regra é clara: "Você quebrou meu recorde? Então eu vou quebrar você!".
"Simples assim, mana...é instinto".
Será mesmo? Comecei a duvidar do meu shidoshi , que podia bem ser decente se não tivesse tanto medo de se machucar. Daí que ele achasse melhor bater do que levar. A piada para mim acabou ali porque eu me vi estirada nesse ringue maldito gritando: "Maaa-têee!".
É preciso mesmo ser assim? Homens e mulheres precisam mesmo resolver tudo na porrada? Como ficamos eu e a minha natureza pacífica nesse contexto? Fora do torneio? Eu hein... prefiro sair apanhada a ser eternamente lembrada como uma serial balançadora de peitos que nem olha direito na cara dos competidores.
E não nos esqueçamos, meninas. No fim das contas, quem "kick ass" mesmo é o Frank Dux. Chong Li acaba na lona. Por mais que amedronte.
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Esta versão do que deveria ter acontecido na grande final do KUMITE é cortesia dos meninos que ainda mantêm a fé inabalável nos poderes de Bolo Yeung: