Tuesday, August 28, 2007

Pega um, pega geral, também vai pegar você!

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É muito difícil determinar o que para mim faz um bom filme, já que entre meus títulos preferidos, vocês sabem, figuram em par de igualdade Dirty Dancing e O Poderoso Chefão II.

Eu não costumo me preocupar de forma particular com a ideologia ou com a suposta qualidade artística do filme. Eu gosto mesmo é de me divertir, seja rindo, seja chorando.

Também acabo escolhendo meus filmes como forma de fazer parte de determinada comunidade que compartilha as mesmas referências. Foi só para entender as piadas que eu aguentei ver todo O Senhor dos Anéis até o final. Meio que só para não ficar por fora.

Acho que o mesmo sentimento motiva as pessoas a se estapearem na feira livre pela última cópia de Tropa de Elite, longa de José Padilha , diretor do genial documentário Ônibus 174, sua primeira parceria com o ex-capitão da PM Rodrigo Pimentel, com quem assina o roteiro do filme que pretende mostrar - em narrativa supostamente ficcional - as mazelas internas do sistema policial e os principais problemas da segurança pública no Rio de Janeiro.

A presença de um egresso do Batalhão de Operações Especiais , a tropa de elite do título, entre os escritores de uma certa forma redime o filme da falta de isenção, o que talvez pudesse se tornar seu maior pecado. O roteiro assume claramente o ponto de vista do BOPE e se não nos leva a esperar outra coisa, isso acaba sendo legítimo. Igualmente necessária, a violência explícita pode desagradar aos estômagos mais sensíveis ou mesmo emprestar ao filme certa aura sensacionalista. Mas não é mesmo chocando que se constroem os melhores argumentos de tese?

O fato é que desde o primeiro acorde do funk proibidão que embala a seqüência inicial, eu simplesmente não consegui desgrudar da poltrona por mais que a minha vivência em favelas tenha mais do que me familiarizado com as maiores barbaridades exibidas em cena. O treinamento para o BOPE, inclusive. Mas a ação surpreende a cada quadro não importa o quanto já se conheça sobre os eventos contados. O enredo introduzido in media res é um primor de narrativa.

Padilha, todo humilde, afirma ter trocado o documentário pela forma ficcional só para proteger identidades. Eu acho que ele optou por outro gênero simplesmente pela certeza de que conseguiria , desta forma, efeitos dramáticos ainda mais contundentes.

O jeito como o filme caiu no gosto do povo sem divulgação ou propaganda é a prova cabal disso.

Mesmo quem sofre a opressão sistemática das incursões do Caveirão, pelo jeito, apóia e prestigia o BOPE.

Ou talvez eles só apóiem e prestigiem mesmo o Wagner Moura, que de fato nos presenteia com uma caracterização impecável. Aliás, a direção de atores no filme é espetacular. Todos falam e agem como as pessoas que pretendem retratar, sem exageros ou maneirismos.

O curioso é que o filme atinge mesmo quem consegue ler suas artimanhas e pretensões de ser definitivo. Por mais que tenham engendrado uma história sobre uma guerra particular, a do Rio, bom cinema de atores e montagem frenética são coisas que se aprecia em qualquer língua e a gente acaba se vendo diante da vibração mais universal do cinema: a impossibilidade de respirar!

Se o filme é bom não sei, só sei que gostei.

A propósito, aos de fora do Rio, um alerta: o filme narra fatos que supostamente aconteceram há dez anos. A consciência do próprio direito cresceu muito nas comunidades carentes e é cada vez mais difícil ver mesmo a bandidagem achincalhada daquele jeito.

Dizem que em função da distribuição pirata em larga escala é possível que os produtores recortem o filme e até que mudem o final. Mas quem viu essa versão viu o verdadeiro director's cut. Eu tenho certeza de que o que mudarem para o cinema vai ficar bacana também. Trata-se de gente que sabe muito bem o que faz e me admira muito que essa cópia tenha vazado assim tão fácil.

Há quem aposte em jogada de marketing. Intencional ou não, trata-se da mais bem sucedida estratégia viral da História. Vai ficar de fora?


35 comments:

fabiana said...

Rola de mandar uma cópia pirata pra moar?

=D

Andrea said...

Fabi, dizem que já tem no e-mule, mas se vc quiser eu mando sim,Bjs

fabiana said...

Aceito a cópia de bom grado, pq aqui no meu PC emule não funciona!

iê!

Andrea said...

E-mail me!!!

Renata said...

Depois que eu digo que ser carioca tá ficando mais interessante culturalmente o povo aqui de casa me bate...hunf!

me interessei, MUITO, aposto que vai demorar um cadinho mais pra chegar em Sampa, né?

A Jana e o Ti said...

Puuuuuuutaaaa, Andrea! Deu vontade demais de ver! Criticam muito o cinema nacional, dizendo que brasileiro só sabe mostrar o que tem de pior no nosso paí. Bom, eu a.m.o.
Quero ver o restoooooooooooo! Wagner Moura é sempre show de bola...

Andrea said...

Jana, eu confesso que também andava meio de saco cheio desse cinema brasileiro que só existe para denunciar e reificar a nossa suposta identidade. Mas esse, apesar da inconfundível cor local, é eletrizante e bem executado como qualquer bom cinema de qualquer país. Bjs

Ah, e TODO o elenco arrasa. TODO. Dá gosto mesmo de ver não só o Caio Junqueira er o wagner que a gente já sabe que são ótimos mas também atores menos óbvios como Milhem Cortaz e Marcelo Escorel. Mas quem me conquistou mesmo foi o André Ramiro, o PM universitário que namora a patricinha. É incrível ver como ele literalmente se transforma no wagner - seiu mentor - no decorrer dos acontecimentos.

Marion said...

Andrea, eu não gosto deste tipo de filme que pretende mostrar a realidade cruel da nossa sociedade. Não vi Cidade De Deus e nem Carandiru. Provavelmente não verei este também. Acho que só a presença do Wagner Moura me faria ver o filme.

Olha, é estranho que um filme nacional tenha sido pirateado em grande escala antes de seu lançamento. Acho que é a primeira vez que isso acontece. Não seria estranho se tudo for um golpe de marketing.

É intrigante, pois no fim de semana busquei na internet o filme O Cheiro do Ralo, que já está em cartaz há tempos, e não achei.. não tem pra baixar! Se tiver tá bem escondido... e o Tropa de Elite ainda nem foi lançado e já tem no camelô... um misterios bem misterioso este!


Beijos

Helen said...

Eu já estava curiosa, sabe, né, por causa do Wagner Moura - digo e nem fico vermelha. Mas fiquei MUITO mais, depois do seu post... Bora procurar aqui na roça.

Pedrita said...

fora competência, acho que há muitos fatores subjetivos que fazem um bom filme. além de saber técnica, precisa haver criatividade para não fazer nada técnico o suficiente para ficar chato, ou criativo suficiente para ficar amador. e ser informado em cultura é essencial. tem muita gente atualmente na cultura que é desinformado e volte e meia acha que teve a melhor idéia do mundo e de tão alienado nem vê que o tema já foi abordado magnificamente anos antes por um grande diretor. beijos, pedrita

Andrea said...

Pedrita, minha diva, onde eu assino?

Anonymous said...

Sei não, esses filmes me cheiram a politicagem. Mas que o Wagner Moura é bom, isso é....
Beijo.

Renata said...

ai, quero tanto ver. eu não tava passando por nenhum camelô, mas esses dias passei e vi o filme em todas as bancas! tô morrendo de vontade de ver...

Ana said...

vc sabe que não perco meu tempo com estética da pobreza.

Mil vezes rever minhas cópias das versões ampliadas de Senhor dos Anéis.

Anonymous said...

Alguma semelhança com Cidade de Deus?

Andrea said...

Corre, Renata, a polícia tá reprimindo...rs A boa notícia é que o lançamento foi realmente adiantado e se vão realmente recortar o filme ele tem de ser finalizado até a abertura do FestRio.

Ana, para a gente não vale isso. Muito sono com Senhor dos Anéis.


Rose, CD é um belo filme, mas ele romantiza muito a vida dos traficantes. Tropa, como eu disse, cai matando na bandidagem e na polícia. Só salva o BOPE...heheheh

Andrea said...

Tati, é um filme político, sim, mas como eu disse, pelo menos ele se assume como tal e não leva o espectador a pensar que aquela é a única verdade dos fatos. É a verdade do BOPE.

Helen, onde é tua roça?

anouska said...

olha, não sei se o filme é bom, mas a tua resenha ficou espetacular. deu mó vontade de ver [e eu tô com você no que diz respeito ao senhor dos anéis. soooooonnooooooooooo...zzzzzzzzzzzzz]

bj

anouska said...

poxa, pela amostra do vídeo deve ser maneiro. mas esse lance de ter vazado também me cheira a marketing. bj

Carrie, a Estranha said...

A-há! Achei vc! Agora vou linkar!

bjs

Helen said...

Minha roça é em Jundiaí, tchuca :)

Fê Guimarães said...

Se o piratão chegar aqui em San José de los Campos, eu compro!

Ana, "Senhor dos Anéis"? Zzzzzzzzz!!!!!

Ana said...

Haha, taí, viu só quem te acompanha? Uma mulher que tem um gosto musical muito duvidoso, se vc quer saber.

Ok, vcs preferem ver um monte de bandido se matando?

Eu mantenho: sou mais minha tropa de Rohirrin, ok?

Éomer, Aragorn, Legolas, Boromir, Faramir, Haldir... quem é que pode sentir sono com esse bando de homem gostoso?

Ps1: Nando, vc me decepcionou. Francamente.

Ps2: olha, sua resenha tá legal, blablabla, mas eu prefiro dar pro Gollum do que assistir esse filme.

anouska said...

hauhauahauhua, banana, eu não tenho gosto duvidoso eu só gosto da bjork e do tom zé! e, amiga, gollum é fundo do poço!!! bj

=]

Ana said...

poizé, amigam: "prefiro dar pro Gollum do que assistir esse filme".

Vivien Morgato : said...

Andrea, me explica melhor o que é esse Bope?
BEIJOS.

Andrea said...

vivien, o Batalhão de Operações Especiais é uma divisão de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, supostamente menos corrputa e comprovadamente melhor treinada.

Anonymous said...

Eu vi o diretor ou roteirista dando uma entrevista e já prenderam o ladrão da cópia que gerou os piratas.Parece que tem gente mais esperta do que deveria.O Brasil é cheio de espertinhos.Eu não vou ver em solidariedade aos profissionais que criaram , ralaram e se viram jogados no meio dos vagabundos que abundam neste país.Respeito é bom e eu tenho.

Gileade said...

Eu peguei uma conversa de uns alunos na fila do restaurante falando sobre o filme mais pirateado da história do cinema nacional e fiquei super curiosa para saber qual era, mas não tive coragem de perguntar. Agora já sei. Um deles falou que depois teriam que ver no cinema para "dar uma moral pro cara", mas o outro retrucou que não pagaria para ver o que já tinha visto.
No final das contas é uma sacanagem. Talvez seja o filme mais visto, mas com menor rentabilidade na bilheteria...

Fê Guimarães said...

Ana, se quiser arrancar qualquer coisa de mim sobre tortura, me abrigue a assistir Senhor dos Anéis ou leu um livro do Paulo Coelho... é sofrimento demais!!!!

Déia, bora pro meu blog que te passei uma lição de casa!

Master said...

Apesar de ter gostado do filme, acho que a trilha sonora é mais antiga pelo menos 3 anos do que os fatos relatados.
Outra coisa: o idscurso " O BOPE é foda" fica meio vazio quando se afirma que a tropa chega pra matar, que é o objetivo. Cada um com a sua cachaça, né? Pra uns é dinheiro; pra outros, mulheres; pro pessoal do BOPE, corpos furados.
Falo isso, mas acho que faria o mesmo com os traficantes e com os mauricinhos.
Cabe agora saber qual a fala que vai ser tratada como a segunda "Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, porra!". Eu fico com "Põe na conta do papa" (a morte de um traficante do Turano.

Master said...

Andréa, outra coisa. A Ana não é público pra isso. Na verdade, uma das personagens é baseada nela.
Não é a Ana a fundadora da ONG Louis Vitton pra todos?

Ana said...

moi même!

Carrie, a Estranha said...

Sim, sim...já tinho lido.

Bjs

Unknown said...

Vim parar aqui graças ao link que a Marion colocou no post dela sobre o filme. Eu também acho que o vazamento da cópia pra exportação foi uma ação de marketing de guerrilha (ou algo do gênero), mas estão dizendo por aí que já pegaram o responsável, então já não sei de mais nada...
Cheers!