Segundas chances

-Um queridíssimo colega de trabalho está trabalhando como tradutor para a editora Harlequin.

Aos desavisados adianto tratar-se de uma empresa que em muito contrubui para a eterna insatisfação das solteiras.

Tudo começou numa tarde qualquer quando ele me ofereceu A indomada e o sheik, comentando sobre a trabalheira que dá transcrever para o Português o riquíssimo vocabulário que autora usou na descrição tanto da casa árabe quanto das paisagens australianas.

Depois vieram outros títulos sugestivos como A cabana, Um amor de verão e O mestre da sedução.

Segundas chances é o nome do romance que eu leio agora já pensando que, com feriado no sábado, não poderei receber minha ração semanal de groselhice.

A crise de privação não será fácil, haja vista a minha dependência de uma dose diária disso:

" Mas aquela dor doce não estava apenas nos seios. Estava no fundo de sua barriga, se espalhando. Sua respiração estava mais superficial, prendendo com freqüência na garganta. Em algum lugar no seu subconsciente, ela sabia que Brice tinha que parar, embora não pudesse apressar o momento. O que ele estava fazendo com ela era bom demais."

Eu admito.

Meu nome é Andrea e eu sou uma chicklitaholic.

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Mas não era bem disso que eu pretendia falar.

Num dado momento da narrativa, Brice ou um outro cara qualquer, confronta sua parceira a respeito de erros que ela teria cometido no passado.

Entre eles estaria o hábito de usar o sexo para comunicar coisas que , em função da puca idade, ela ainda não sabia dizer ou elaborar.

A reflexão do garanhão me pôs a também pensar no quanto às vezes mesmo os adultos creditam um valor enorme ao suposto poder significativo do sexo.

No último mês, nada menos do que três amigas reinvindicaram legitimidade para perseguir um homem sob a alegação de que "a química" entre eles é "fantástica, única", ou de que o que eles têm "não se encontra a cada esquina", que não é possível que ela esteja sentindo "isso tudo sozinha".

É curioso ouvir o mesmíssimo discurso de mulheres absolutamente diferentes, que nada compartilham além do desespero de causa.

Não dizem que o melhor tempero é a fome?

Talvez o que faça o sexo assim tao especial seja meramente a sensação de que ele vai demorar muito a acontecer de novo e não um indício de que se esteja diante do Homem Certo.

Eu sei que eu não posso falar, que a minha vida sentimental também é um desastre mas nos meus sonhos, meu Príncipe Encantado, além de dar no couro, sempre liga para repetir a dose.

E sim, ele simplesmente está a fim de mim.

Também leio auto-ajuda, e daí?

E posso me orgulhar de dizer que Marian Keyes ainda não me estragou por completo.