À espera de um milagre

Só mesmo com o cancelamento do nosso encontrinho de domingo me caiu a ficha do problemão que é essa greve de roteiristas. Ao menos para uma seriemaníaca como eu.

Vários programas que eu acompanho já se encontram em forçado recesso e algumas estréias aguardasa , como as de Lost, estão seriamente ameaçadas. Algumas temporadas, como a de Heroes, serão drasticamente reduzidas e outras , como 24 horas - um formato que depende de uma quantidade exata de episódios - podem nem mesmo ser produzidas.

Os escritores conseguiram provar um ponto que há muito tempo incomoda quem acredita em TV de qualidade: não é um astro quente que faz um grande programa, muito pelo contrário. São as histórias que geram um sucesso.

A greve é um tapa de luva nos executivos dos estúdios acham que vale pagar um milhão de dólares por episódio para não perder Kiefer Sutherland para o cinema mas que acham que argumento vendido é argumento perdido, não importando a fortuna que a atração venha a arrecadar.

E tem outra coisa que me incomoda demais. De novo eu, a fã de TV.

É essa coisa de atores desprestigiarem o veículo ou usarem apenas como trampolim para a telona. As pessoas não têm idéia da quantidade de atrizes medianas que esnobaram, por exemplo, os testes para Desperate Housewives por não acharem válido se comprometer durante anos com um mesmo personagem. Como se o sucesso fosse uma cadeia.

Fora aqueles que abandonam o programa no auge do sucesso para se envolverem em produções meia-boca em troca de um prestígio que, sabemos bem, não se encontra em filmes de segunda linha.

E sempre sobra para os roteiristas, que precisam tecer os mais rocambolescos enredos na luta pela manutenção da dignidade e da coerência de shows para os quais os atores muitas vezes cagam.

É por isso que mesmo frustrada por não poder gongar os modelitos no tapete vermelho na cerimônia dos Golden Globe, eu entendo todos os motivos da greve. Discussões delicadíssimas como direitos autorais e controle artístico foram relegadas a segundo tempo ao longo dos anos em virtude do culto vazio às celebridades e isso acabou gerando um involuntário vácuo criativo na TV aberta norte-americanos. Para cada programa que emplaca o prime time, vinte são cancelados antes da segunda temporada.

Nem para os atores é um bom negócio viver de apostas. Que bom que eles também entenderam e apóiam massivamente a paralisação, para surpresa dos executivos, que ainda apostam no desgaste.