Eu poderia começar esse
post-homenagem com alguma referência explícita do tipo:
O ano era 1987 - quando todo mundo me chamava de Déia - e não me ocorria me importar - e foi antes da morte do Cazuza, antes do aparecimento da Lambada, quando eu mal podia esperar para votar para presidente - e pensava que logo logo encontraria um cara muito mais legal do que o meu pai.Mas não foi assim que aconteceu.
O filme só deve ter aparecido por aqui no ano seguinte e eu, menina de periferia, não tinha a menor condição de acompanhar lançamentos cinematográficos em tempo real e se eu não me engano eu só devo mesmo ter assistido
Dirty Dancing em VHS já uns anos depois.
Mas nem por isso posso dizer que o impacto do filme na minha vida tenha sido menor. E não é só porque eu era uma adolescente em ebulição que tremia diante da visão de Patrick Swayze rebolando de camisa aberta, mas sim porque esse filme - infelizmente - contribuiu muito para minha (des) educação sentimental.
Fuck
Dirty Dancing,
I owe it all to you!
Não é de se estranhar que a história sem pé nem cabeça tenha sido escrita por uma mulher.
Só mesmo uma mente deturpada pode vislumbrar a possibilidade de sucesso no romance entre uma moça que quer mudar o mundo e um vagabundo que confessa se alimentar de jujubas.
E pôr na boca da pobre da Baby as frases mais bundonas já ditas em toda a história do cinema-para-mulherzinha.
Se um homem declara : "
Eu não sou nada", o certo é apenas olhar para ele com cara de dó e não sair gritando "
Você é tudo! Você é tudo!" para levantar o moral do cabra que, em noventa por cento dos casos é mesmo
um nada se fingindo de humilde e prestes a enredar a moça em algum tipo de chantagem emocional.
Outra nota, Baby: o filho SEMPRE é dele. Sem-pre.
Mas bom mesmo é aquele diálogo na cama, quando Baby questiona Johnny acerca de seu passado
womanizer. Ele alega que era impossível para um pobretão resistir ao assédio de mulheres ricas e cheirosas e Baby, toda compreensiva, comenta: "
OK, eu entendo. Você apenas as usava", e ele rebate, mais uma vez posando de vítima: "
Não...elas é que estavam me usando!"
Que coisa, não? Morri de pena dele. Shorey leeetrus!
E quando Johnny Castlle exige que Baby o assuma diante da família?
Ela dessa vez reage:
"Medo? Claro que eu tenho medo. Do que eu vi, do que eu fiz. Mas acima de tudo eu tenho medo de atravessar essa porta e nunca mais me sentir, pelo resto da minha vida, do jeito que eu me sinto quando estou com você."Um dia eu disse algo parecido para um cara. E ele terminou comigo na semana seguinte.
Com a senhorita Frances Housemann aconteceu exatamente o contrário.
Acho que foi exatamente aí que Johnny percebeu em Baby uma possibilidade de mudar de vida, já que ela ensinava tanto
sobre o tipo de pessoa que queria ser.
Uma grande parceira, sei...só eu sinto cheiro de golpe do baú?
Sim, porque antes dela ele é só um homem que dança - ????- , masca chicletes e se veste de preto.
Roupas pelo menos dois números abaixo do dele.
E que apertam aquele bumbum esculpido... ok, mas não era disso que eu tava falando.
A verdade é que maneira como esse filme foi se tornando, ao longo dos anos, objeto de culto e adoração só pode ser resultado de algum tipo de alucinação coletiva embalada por essa música aqui:
Confesso que assisto essa seqüência final pelo menos uma vez por mês - sim, durante aqueles dias em que me odeio - e não importa o quão idiota seja o caminho que me levou até ali, sempre me sinto mais feliz e crédula depois dela.
I can't get enough of.Acho que era com isso que os roteiristas contavam.
No fim das contas fico eu mesma esquecida de tudo o que escrevi pensando em como talvez a Baby, por ter se arriscado, dado aquele salto e tudo mais seja mais merecedora do amor do que eu, que já
procurei por toda porta aberta....e nada de
encontrar a verdade!
Tá, durante todo o mês dos namorados prometo acreditar que eles foram felizes para sempre.
So, I'll tell you something: this could be LOVE!