O feriadão da semana passada foi daqueles períodos frenéticos em que a gente, meio que por se obrigar a rever amigos saudosos, conta umas duzentas horas de mesa de bar.
O catching up me tirou de casa rigorosamente todas as noites mas os momentos-emo, cabe o adendo, não se restringiram às calçadas da Lapa.
Mesmo na longínqua Pau Grande ou aqui no boteco da esquina parece que foi todo mundo tomado por uma generalizada sensação de underachievement que leva a questionar em voz alta depois da terceira cerveja: "caramba... o que eu fiz da minha vida?"
Esse sentimento de vergonha e frustração assola gente de vinte e pouquinhos ou avançada nos quarenta, portadores de diploma de doutorado, mal saídos da faculdade, gente invariavelmente BOA né? Afinal é dos meus amigos que eu tô falando.
Essa vibe deprê tá em todo lugar. Todo mundo se achando perdedor. Nem no segundo grau, quando era esteticamente aceitável ser triste- e gótico!- eu presenciei tanta autocomiseração.
Como sempre, eu tenho uma teoria.
Em primeiro lugar, não é possível , num mundo em que tanta coisa acontece, que ninguém esteja realmente fazendo algo.
Em segundo lugar, não sei quantas metas inatingíveis a gente às vezes se impõe com o único objetivo de se auto-sabotar.
A obssesão pela relevância talvez seja o que leve tanta gente a perder a medida exata do seu próprio valor.
Já é difícil demais lembrar de pagar as contas, botar o lixo fora e calibrar os pneus. Se no final do dia você conseguir gozar e ser feliz, parabéns, mas lembre-se de fazê-lo por você mesmo e não para exibir sua alegria fake no álbum Orkut.
Por último, eu gostaria muito de saber que foi que determinou que "tudo na mesma" tenha necessariamente de ser uma resposta trágica ou embaraçosa.
Pensem que muita merda poderia estar acontecendo na sua vida exatamente agora. Você teria muito o que contar, sem dúvida.
Quanto à mim, desde que abracei uma postura mais horaciana diante do mundo, desisti de lutar contra certas adversidades.
Eu quero muito um homem que me ame e isso é o meu "to do" mais incômodo. Falta empenho? Critério? Cinismo? Sorte?
A única certeza é a de que eu estou cometendo algum ou muitos erros.
O que me leva a pensar em como, mesmo amando sapatos, tornar-me uma bem-sucedida designer de botas está completamente acima das minhas capacidades de desenhista, a despeito das minhas geniais idéias para a coleção Outono-Inverno 2008. Tudo muito claro...dentro da minha cabeça.
E se com o amor também for assim? Preciso, ainda por cima, me auto-flagelar?
Prefiro engolir a revolta e continuar a me relacionar com homens e calçados sem esgarçar, pelo excesso de esforço, as minhas limitadas potencialidades.
21 comments:
Déia, coloca esta deprê de lado!
As coisas são como são. Algumas conseguimos mudar, outras infelizmente não dependem de nossa vontade. Por isso mude o que puder, mude para melhor, para sentir-se melhor.
E mantenha o bom astral e a auto-estima e uma hora o homem que você tanto procura aparecerá!
:)
Honey Bee, você tocou bem fundo no meu coraçãozinho com este post! No meu mundo de solteira e feliz por estar assim, mas, não menos preocupada com o que vai ser da minha vida se não encontrar 'o cara', a minha frase obrigatória nos encontros com as amigas é "tudo na mesma". É bem verdade que, isso me incomoda somethimes, sobretudo quando o encontro é com as amigas casadas (me sinto naquele episódio de sex in the city da 'guerra' entre solteiros e casais).
Quanto a essa coisa toda de 'metas inatingíveis', eu me cobro, mas em alguns períodos. Às vezes leva tempo pra gente se encontrar, e nem ligo se não for agora e sim daqui a 10 anos. Não existe vida sem metas à longo prazo!
Beijocas
Post sensacional!
Haja auto-ajuda de Bruce Springsteen e Jon Bon Jovi pra nos salvar nessas horas.
Ai, Marion...que deprê o que. Só não preciso também fingir que não ligo, néam?
Fabi, vc ainda é uma crionxa!
Renato, sabedoria de encarte de CD ainda é melhor do que de bar.
Que post introspectivo!! Tô imaginando vc fazendo essas considerações no boteco e todos, depois de umas e outras, respondendo: Só, só...
Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo maaaaal! (sem conotação gay desta vez).
Às vezes me pego querendo ser Deus. Mas geralmente tô contente em ser Eu. Questão de perspectiva.
Beijo!
Bom, Mi, nessas mesas aí eu muito mais ouvi do que falei e quando falei geralmente foi "tudo na mesma"...hhahaha
Edu...eu queria tanto que essa gente boa se enxergasse assim também...que tivessem mais senso de self.
Nossa fiquei passada quando acabei de ler, nem sei o que dizer...
Nada como um dia após o outro para as coisas se ajeitarem.
Tenho certeza que tudo vai dar certo pra vc.
Bel, queisso...tá tudo bem, darlingzinha. Quando eu li "passada" quase apaguei o post...rs
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
pq quase apagou? é modo de dizer
Esse é o âmago da felicidade:
Homens e sapatos, não necessariamente nesta ordem.
Beijo.
Como se diz aqui no NE, "a andréia arretou-se!"
fundamental! absoluta!
:-P
ai, déa nem me fale. esse teu post tá tão direto ao ponto, no caso o meu. não é mesmo questão de ficar deprê, mas também a gente não vai fingir que tá tudo ok, néam? porque comigo não tá. hj quase abri a boca assim, do nada na frente da orientadora. e ela nem tava sendo mazinha nem nada, tava lá fazendo uns comentários e eu pensando: "putz, que merda, a vida é um amontoado de bobagens mesmo." depois pensei "menos, querida, menos. deixa pra ter piti em casa." tô mal. blergh! valeu pelo momento terapia de grupo. bjs
tá lá. escrevi o post. acho que virei emo, pode dar na minha cara. ploft!
feriado? que feriado? só trabalhei mesmo. beijos, pedrita
eu acho a tua vida o máximo. Você é, de longe, a mais bem sucedida das amigas letrinhas. Love ya!
é nessas horas que eu coloco F.R.I.E.N.D.S. no DVD e faço brigadeiro... eu tenho prova de vestibular amanha e estou pensando na vida! será que isso faz bem?
Andrea saia da depressão e faça um post novo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
homem eh que nem sapato...
Catching up? Underachievement? Vibe? Tem problema, não. Eu caso contigo, mesmo que não entenda uma vírgula de ingrêis.
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