Friday, September 08, 2006

"Não é você, sou eu."

George Costanza reinvidicou para si a autoria dessa genial justificativa para finalizar namoros. A fala realmente já foi um grande achado que permitiu a muitos sair de um rolinho equivocado de forma relativamente leve e impedir qualquer tipo de argumentação contra a inviabilidade do relacionamento. Pena que a saída estratégica pela esquerda venha se banalizando e deixando de surtir os efeitos a que se propunha de início.

Principalmente se a dispensa for coroada com pérolas de pé na bunda como "Não estou pronto para um relacionamento agora", "Preciso me concentar no trabalho", "Você é especial demais e merece alguém melhor do que eu"...são tantas as variações que eu poderia escrever um blog inteiro apenas sobre elas. Ou melhor, decifrando o que realmente querem dizer:

"Não é você, sou eu...QUEM NÃO TE QUER!', "Não é você, sou eu QUE POSSO ENCONTRAR ALGUÉM MELHOR!", "Não é você, é OUTRO!"

Costanza foi feliz até o dia em que ouviu pela primeira vez o "Não é você, sou eu" que ele estava careca (...) de dizer às namoradas que se mostravam inadequadas. O brilhante enunciado só funciona como alento para almas inocentes que nunca fizeram uso desse manjadérrimo expediente. Se você já se safou de alguém com esse papo, sabe muito bem o que está por trás dele. E, ouvindo o mesmo caôzinho, é horrível constatar que dessa vez é você quem simplesmente não serve.

Em tempos de eleição sempre é bom lembrar que política e honestidade nunca andaram de mãos dadas. Principalmente no que diz respeito às relações pessoais. Se você quer preservar a imagem, precisa fingir. Uma mentirinha branca sempre vem a calhar. Para quem fala e para quem ouve. Por mais que a gente viva bradando aos quatro ventos que quer ser tratado com honestidade.

Já pararam para pensar num mundo em que a gente só ouvisse a verdade nua e crua? No mínimo o número de suicídios subiria assustadoramente. A realidade da vida às vezes é dura demais e querer se proteger dela não é um crime, assim, inconfessável...em alguns casos é melhor mesmo se fazer de bobo e evitar entrar em certos detalhes.

Uma amiga muito querida insistiu em cobrar razões consistentes de um namorado que sumiu sem dar nem uma explicação. Após exigir que ele dissesse que estava realmente tudo acabado e o porque do fim ela recebe um e-mail lacônico de uma linha apenas: "Eu não quero mais". Super sincero. Super doloroso para ela.

O que leva às inevitáveis perguntas: existe mesmo um jeito bacana e decente de terminar um relacionamento? É mais válido puxar o band-aid de uma vez ou prolongar a agonia até que o outro se acostume à idéia? E - perguntar não ofende - é melhor estar na posição de breakER ou de breakEE?

Ah, qual é? Só mesmo quem já passou pela necessidade de dispensar alguém legal conhece a dor da situação. De um lado, a convicção de que aquele sentimento não tem mais para onde crescer. De outro, o medo de abrir mão de uma pessoa que - sabe lá Deus porque - achou de gostar da gente.

Fora que, para o chutado, todos os amigos estão a postos, prontos para levantar o moral e propôr programas que o façam esquecer a ingratidão de quem não lhe deu o devido valor. Para quem teve a coragem de determinar o fim, nenhuma compreensão, nenhuma coversa sobre eventuais dúvidas. Quando não se tem que lidar com o igualmente cruel: "Mas não foi você quem quis assim?"

Terminar sempre é chato, não importa de que lado da mesa estejamos. Tem gente que já desistiu de namorar só por medo desse momento.Não deixo de entender que eles têm mesmo um bocado de razão. Recolho-me à minha modesta insignificância, fecho as portas do consultório sentimental e passo a bola para Beto Guedes e Fernando Brant, cientes das responsabilidades mas confiantes nas compensações:

O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ser, de a todo momento escolher

Com acerto e decisão a melhor direção

O sol levantou mais cedo e quis em nossa casa fechada entrar pra ficar

O medo de amar é não arriscar esperando que façam por nós o que é nosso dever
Recusar o poder

O sol levantou mais cedo e cegou o medo nos olhos de quem foi ver :Tanta luz!


*

Para a precocemente desencantada JeniFFer e para os eufemistas Ril, Fê Guimarães e Renato Roriz.


*

SERENITY NOW!

14 comments:

Anonymous said...

alguém mais achou o final desse post mega incômodo?

Anonymous said...

Here's the truth about the truth: It hurts. So we lie...

Anonymous said...

Excelente! Hahaha.. Você explorou cada mínimo detalhe do tema.
Os complementos à frase "Não é vc, sou eu", rs... Não podiam ser mais verdadeiros!
Bom, realmente é muito chato ser o breaker da situação... Mas eu confesso que prefiro do que ser o breakee! Levar um fora dói demais, muito mais.
E nem acredito que ganhei uma dedicatória aqui, heheheh...

Anonymous said...

"Mas não foi você quem quis assim?" é péssimo mesmo, nem sempre os heartbreakers são vilões. né ?

Andrea said...

Só quem ouviu ( e sentiu o abandono às avessas) sabe, carol.

Renato, eu comecei a pensar nesse post trocando idéia com vc.

Struty, o que te incomodou?

Andrea said...

Já sei! Só pode ter sido o beto Guedes...esse povo que leva música à sério e fogo.

No próximo tem epígrafe com Smiths, tá? hahaha

Anonymous said...

Nossa, Deía! Você não tem noção de como me identifiquei com esse post. O término do meu último relacionamento foi doloroso ao extremo para mim, e olha que eu fui o breaker... tive que puxar o band aid de uma vez só, e não foi nem um pouco fácil, pois era uma pessoa que gostava muito, mas muito de mim. Eu também gostava dele, mas, infelizmente, não na mesma proporção. Fora que havia outras questões agravantes, que apenar prolongariam o sofrimento por mais tempo, caso insistíssemos em tentar. Sofri demais e chorei demais, porque, quando se é uma pessoa de caráter, não é nada fácil saber que somos motivo de sofrimento para alguém que não merece. Seu post me emocionou muito...

Andrea said...

Mas não recuse o poder!

Anonymous said...

me identifiquei muito nesse post...
o que dizer de um cara que pede 6 semanas de tempo pra saber o que sente? é muita falta de criatividade no fora , né não?? o pior é que mesmo depois 2 anos de relacionamento OFF LINE* não conseguiu definir o que ele realmente queria..ai meus sais....kkkkkkk

*fica!!!!

trela said...

ou apanha, quebra a cara, bate, ou então se guarda dentro de uma caixinha e finge que vive.
né não?

Andrea said...

É sim, abelhuda. A gente precisa é entender que tá aqui mesmo pra bater e levar...

Anonymous said...

Só pra não ser injustiçado: o q me incomodou não foi o Beto Guedes (apesar de realmente não ser fã dele) mas o q os versos dizem, bem isso q a abelhuda falou...pq isso é uma verdade. E eu concordo com isso e tal...é incômodo pq é tipo, tô eu na minha me enganando, escolhendo o caminho fácil aí vem uma verdade, pula na minha frente e fala: 'ei idiota, o caminho é outro. e vc sabe'.
Foi isso q incomodou, o excesso de verdade nos versos finais que me faz perceber como eu me engano e como eu tô errado.

Andrea said...

JeniFFer, trata-se de uma queixa generalizada de praticamente TODAS as colaboradoras. Mas às vezes a maldade que o cara faz é tão grande que preciso suavizá-la para torná-la crível. Tudo pela verossimilhança!

Ana said...

Eu ainda prefiro acreditar que um dia vão inventar o botão tabajara de desenamoramento. E todos os nossos problemas acabarão!