Friday, September 29, 2006
A casa da luz vermelha, um adendo
Segunda: "Oi, Andrea, aqui é o Sérgio."
Quarta: "Oi, Andrea, aqui é o Eduardo."
Sexta: "Oi, Andrea, aqui é o Marcelo."
A luzinha vermelha piscando raramente anuncia função, mas voz de homem do outro lado é sempre uma esperança que se renova. Se não a promessa de um mundo novo ao menos a possibilidade de que o dia não precise acabar exatamente naquela hora.
Ouvir o que se segue é ainda mais lamentável do que a minha triste condição de balzaquiana solteira ou de romântica incurável: "Eu vim pedir sua ajuda...blablabla...conto com seu voto...blablabla!"
Porque candidato filho da puta tem que ter nome de homem gato, hein? Queria muito ter atendido o telefone pra mandar mesmo a vozinha gravada à merda. Porra...nem na minha casa eu tenho sossego? Nem no aconchego do meu quarto eu posso esquecer da existência desses bandidos?
Não basta me deprimir com os balançadores de bandeira e com a exploração de cada pedacinho de pau de cada barraco no Complexo da Maré?
Em vias de jogar minha secretária eletrônica na beira do cais, me contenho pensando que em 2008 o Lindberg pode decidir me ligar. E ele pode ser bem mais rápido do que o rapaz perfumado que prometeu fazer isso ONTEM!...
Bate-boca de urna
Em nenhuma eleição anterior tive tanta dificuldade para me decidir quanto nesta. Desde 1989 eu vinha oferecendo exclusivamente ao PT ( ou à sua orientação) meu voto convicto e esperançoso. Diante da dura realidade dos fatos – conhecida de todos – e visando num momento acertar e no outro apenas o controle do mal maior, mudei de idéia milhões de vezes.
Cogitei o nulo, depois o voto envergonhado no PT, e depois 50 de cima a baixo. Em sinal de protesto mesmo. Até porque eu nunca sonhei em morar no país da Heloísa Helena. Me processem, mas acho que sou consumista e mulherzinha demais para combinar perfeitamente com 100% do ideário do PSOL.
Repensei tudo de novo e até me deixei levar por pesquisas e por critérios pouco ortodoxos. Na Helô, por exemplo, eu só vou votar porque eu sei que ela não leva. Quero dar moral, mas não quero eleger, entendem? Eu a adoro, mas no Legislativo.
Aliás, o grande paradoxo desse dificílimo e doloroso pleito reside justamente nessa contradição: não podemos dizer que nos faltam bons candidatos. Uma disputa que conta com pessoas do calibre de Cristóvam Buarque, Milton Temer, Vladimir Palmeira, Jandira Feghalli e Fernando Gabeira não pode ser vista como uma competição de baixo nível. Sobra gente boa, mas ainda assim falta opção! Especialmente no que diz respeito aos cargos do Executivo. A maior parte das propostas – se é que podemos chamar assim - são claramente levianas e inexeqüíveis. E de uma maneira geral nitidamente populistas e eleitoreiras.
No entanto, nem tudo foi assim tão difícil. Para Federal, vou de Chico Alencar mais uma vez, como fui em todas as outras. E juro que não é por causa do largo sorrisão e dos olhinhos verdes.O partido é outro, mas os valores são os mesmos desde a primeira eleição em que confiei nele. E é isso que interressa.
Eleitores revoltados muitas vezes não demonstram constrangimento algum ao afirmar que não lembram em quem votaram menos de seis meses após as eleições. Outros defendem o voto nulo por se dizerem cansados de tantas decepções.
Tá aí...acho que sou um alien. Ou alguma outra estranha forma de vida, porque sempre votei no Chico e repito o voto porque me sinto extremamente recompensada por tê-lo como meu representante no Congresso Nacional, com base na permanente prestação de contas que o meu deputado faz questão de manter atualizadíssima!
Indecisões à parte, ao menos minha fidelidade ao Chico é um sinal de que EU SEI VOTAR, sim! Faltam uns tantos outros começarem a aprender. Órfã do PT, resolvi dar o meu jeito bagunçando a cédula com combinações estapafúrdias e nunca de antes imaginadas por mim. Mas junto com cada "confirma" aparentemente nonsense vai meu coração, minha consciência e acima de tudo meu senso de responsabilidade. Posso até errar, mas quebrando a cabeça pra tentar contribuir.
Domingo o que não pode prevalecer é a preguiça.Quem acha que toda a classe política brasileira nos envergonha deve parar pra pensar, um instante que seja, em como alguns grupos pouco comprometidos com o bem comum continuam se perpetuando no poder.
É difícil casar a fala indignada de quem clama por ética na política com um resultado que aponta a possibilidade de que a situação, no Rio de Janeiro e em nível nacional, leve a eleição ainda no primeiro turno. Sem quase suar a camisa.
Me dói muito saber também que a despeito de todos os escândalos, a renovação na Assembléia Legislativa do meu estado será irrisória. Quem vota no Picciani, pelo amor de Deus? Eu nunca vi, mas esse alguém existe e pelo jeito, faz muita diferença...para PIOR!
Já sei! Deve ser mais um dos que vivem por resmungando que nada muda. De repente ele continua votando mal só para continuar tendo razão...
Wednesday, September 27, 2006
Top 5 ativistas anti-sobriedade (anexo 2)
2. HOMER SIMPSON: " Tá bom, cérebro. Você me odeia e eu te odeio. Então, deixa eu continuar a te matar com bebida."
3. OSCAR WILDE: "O trabalho é o teste da aula de bebida."
4. DEAN MARTIN: "Você não está bêbado se consegue deitar no chão sem se apoiar."
5. ERNEST HEMINGWAY: "Eu bebo para tornar as outras pessoas interessantes."
E eu, quando li sobre os malefícios da bebida, resolvi parar de ler!
Politicamente ereto ou o jogo do eufemismo (anexo)
Não é de hoje que o conteúdo desse blogue vem sendo apontado como altamente ofensivo a certas minorias. Em vista disso, achei apropriado rebatizar alguns termos e expressões essenciais à análise dos meus assuntos preferidos.
(Mesmo que eu tenha me valido de plágio - oops! - prosa previamente possuída: http://www.pcphrases.com/)
As pessoas não são loucas, são apenas socialmente desalinhadas:
Alcoólatra : ativista anti-sobriedade
Baixo: anatomicamente compacto
Desonesto: eticamente desorientado
Detento: cliente do sistema prisional
Feio: cosmeticamente alternativo
Incompetente: diferentemente qualificado
Ladrão: especialista em ajuste de custo de vida
Pobre: economicamente marginalizado
Psicopata: seletivamente perceptivo
Vômito: exame não-planejado de comida previamente consumida
Os homens não são porcos, sofrem apenas de excesso de empatia suína:
Babaca: caso de inversão crânio-retal
Bêbado: espacialmente perplexo
Burro: verbalmente desafiado
Galinha: avesso à monogamia
Gostoso: fisicamente combustível
Não sofremos de TPM, somos apenas hormonalmente homicidas:
Grávida: oprimida por parasita
Dona-de-casa: engenheira doméstica
Bêbada: verbalmente disléxica
Galinha: horizontalmente acessível
Gostosa: dependente de colágeno
Alunos não são preguiçosos, são apenas desprovidos de motivação:
Bagunceiro: não- conformista
Desastrado : particularmente coordenado
Fedido: retentor de odor
Fofoqueiro: rápido transmissor de informação não-fatual
Tagarela: verbalmente abundante
Mais gracinhas em: http://www.getamused.com/
Sunday, September 24, 2006
É minha! É minha! A porra da cabeça é minha!
And more, much more than this, I did it my way
Wednesday, September 20, 2006
RAPIDINHAS
Nova Iguaçu acaba de ser declarada campeã da disputa histórica contra o município de Duque de Caxias. Dane-se o dinheiro do petróleo e o sexto PIB nacional...cidade boa mesmo é cidade bonita! E o que pode enfeitar mais uma cidade do que foto de homem gato? Ignorem os buracos na Via Light e venham apreciar os 953583458 outdoors em que o prefeito Lindberg Farias sorri e vende obras. Uma fofura! Já em DC, o mandatário local continua atendendo pelo sugestivo apelido de Batoré...
I see dead people!
Ele tinha sumido - para variar, sem explicação - há vários meses e ela, cansada de esperar, já totalmente em outra.
Num belo dia, o telefonema e o convite que ela prontamente recusa: "Estou apaixonada". Ele: "Olha, toma cuidado, não quero depois ouvir dizer que esse cara te magoou, tá?
Novos mitos urbanos da noite carioca
Saturday, September 16, 2006
Please don't say "foi mal"
Eu vinha num processo legal, caminhando para uma relação saudável com a internet...até que a chance de rever clipes toscos e todos os pileques de Heleninha Roitman me congelou horas diante do micro sem a menor noção do tempo perdido nessa atividade nada produtiva.
O que eu mais gostei foi de poder ver quadros de stand-up comedy que jamais seriam disponibilizados por essas bandas. Ah, foi mal aí pra quem não entende esse tipo de humor, mas trata-se certamente da forma de arte mais completa e formidável que existe. Segurar a atenção de uma platéia só com texto, microfone e atitude é o sonho de todo professor, né? Talvez por isso eu admire Jerry Seinfeld mais até do que Camões e Madonna. Eu adoro as narrativas torpes e as reflexões amorais sobre o cotidiano...para mim, quanto mais politicamente incorreto, melhor. Foi mal se você se vê retratado no patético da vida, mas eu quero é rir desse mundo estranho! O tom digressivo desse blog não é meio metidinho a engraçado? Confesso, sou uma comediante frustrada.
Graças aos conselhos de um amigo professor e também comedian-wannabe, vi tudo o que pude do Chris Rock. Ao mesmo tempo em que me apaixonava perdidamente pela série que para mim foi a grande estréia da temporada 2005-2006: Everybody Hates Chris, onde Rock passa a limpo sua adolescência de menino negro no Brooklyn desconstruindo e escrachando todos os mitos relativos à democracia racial que os EEUU ainda tentam ingenuamente vender ao mundo . Ele toca fundo na ferida e incomoda muita gente que já acusou o programa de ser panfletário e chulo.
Uma das incomodadas - por outros motivos - foi uma ex-professora de Chris Rock, mostrada na série como uma senhora doce e bem intencionada, mas que sempre que tentava ser inclusiva dizia ao garoto coisas como “Você e sua gente...” Causou furor na mídia o mea culpa da velhinha, retratando-se por suas atitudes racistas e anti-pedagógicas numa carta ao comediante. O engraçado é que a ficha da coitada só caiu agora, mais vinte anos depois, quando ela assistiu a série e conheceu o ponto de vista do menino que ela imaginava ter tratado tão bem. Ou será que ela "se arrependeu" só porque todo mundo viu? Não seria a primeira a oferecer ao mundo desculpas vazias, certamente.
Graças à minha catarse bloguística, tive meu dia de Chris Rock. Esbarrei certa noite com o vilão de uma das narrativas: “Legal seu blog, você escreve bem, não pensei que você fosse tão engraçada...blablabla”. Eu me achando a tal...coitado, isso é apenas UMA das coisas maravilhosas sobre mim que você não quis descobrir...até que: “Aí...foi mal. Não sabia que você tinha ficado chateada. Tá muito gata, hein? Vai entrar?”
Bem, podia ser pior. O acaso me poupou de ler “foi mal” em comentário ao post em questão. A propósito, esse irritantíssimo “foi mal” devia servir de slogan para essas operações tapa-buraco emergenciais que os políticos em campanha promovem para maquiar a cidade por alguns dias. Até a próxima chuva. E a próxima enchente.
Aparentemente “foi mal” apaga qualquer incômodo do passado, recente ou jurássico. Quando foi mesmo que essa lamentável expressão se tornou tão poderosa, hein? Ouvi até dizer que estão revendo os livros infantis...onde lia-se ABRACADABRA agora se lê “foi mal”. Não importa o tamanho do milagre que se almeje !
Não pensem , no entanto, que se trata de um artifício recente. As origens da expressão remontam ao simbólico ano de 171 A.C., quando numa sauna romana um soldado alquebrado e constrangido disse pela primeira vez: "Foi mal, isso nunca me aconteceu antes!"
“Foi mal” serve tanto para “foi mal, não te liguei” quanto para“foi mal, te endividei”, “foi mal, queria poupar sua vida, mas tenho medo de ser reconhecido!” Será que funciona se eu olhar pro espelho de ressaca e disser: “Ah, bebi tanto...foi mal!”? Se eu fumar dizendo “foi mal” meu corpo me poupará das rugas? Ou a mágica só funciona mesmo pra homem?
Parece que sim e segundo uma amiga a responsabilidade é 100% nossa: mães, filhas, irmãs, amigas, esposas. A gente desculpa os caras de tanta coisa que eles acabam sempre achando que vão escapar de mais uma dizendo apenas “Ih! Foi mal...”
*
Wednesday, September 13, 2006
Febre de sábado à noite 2: ilustrando conceitos
Não dá pra imaginar essas carinhas de perdedores dando show na pista de dança, mas será que só por isso eles não podem ser (ou voltar a ser) protagonistas??
Quem em sã consciência dispensaria um fofo desses só por causa de um celular na cintura?
Monday, September 11, 2006
Febre de sábado à noite : relativizando
Sempre encarei o Far Up, no cantinho, com a maior reserva. Achava que fosse lugar de loser e de mauricinho.Olhava aquelas peruas arrumadérrimas se exibindo no terração e pensava no quanto aqueles saltos 15 não combinavam em nada com o som de rock nostálgico que vinha dali. Tudo mudou no último sábado. Nada como o aniversário de uma pessoa muito querida para começarmos a rever conceitos.
Cheguei cedinho determinada a me embebedar o quanto antes para que a noite passasse rápido. Não sei se os drinks (provei quase todos!) são realmente milagrosos, mas em meia hora eu já estava simpatizando com o lugar. Principalmente depois que o show – marcado por um certo excesso de U-huls!- começou.
Só então pude me ater um pouco à analise da fauna e da flora da casa. Flora , aliás, quase inexistente. Poucas vezes no Rio estive num lugar tão bofinho. Um festival de tiozinho e camisa xadrez de dar gosto.Também tinha mullet, celular na cintura... e não é que eles têm lá seu charme? Me acostumei tanto a admirar dreads estilosos requebrando na salsa e no samba que até esqueci que não tem coisa mais fofa nesse mundo do que homem que não sabe dançar. Ah, tem sim: homem que não sabe se vestir. Se ele achar que estar arrasando então, é nocaute! Me vi subitamente diante de um tesouro inexplorado.
O processo é antigo. De muito antes de a presidente de honra do outrora seletíssimo clube Sexo em Nikity ter se pronunciado em favor da flexibilização dos targets . Tem tempo que eu olho com ternura para esses rapazes que trocaram o molejo das cadeiras por pulseiras de ouro. Há qualquer coisa de vulnerável e de discretamente sexy nessa falta de jeito que remete um pouco aos tipinhos que me atraiam na adolescência. Sabe aquela carinha de pureza, de quem ainda não tem recursos pra te magoar? Poxa, e ao som de Lulu Santos e Kid Abelha!
Pena que a única biba presente fosse justamente o meu acompanhante. Não demorou muito para o puto - totalmente sem target - se queixar de sono, cansaço e dor de cabeça. Tentei me fazer de desentendida, mas quando ele disse que estava com FEBRE, tive que preparar a saída. Uma pena. Estou louca para voltar ao Far Up num sábado com amigas , digamos, um pouco mais dispostas.
Um passarinho me contou que a bicha sabotadora em questão foi vista, na mesma madrugada, “comendo um hot dog vulgar” lá pelas bandas do Parque Suécia. Não sei se ela tava realmente com febre ou só com fome, mas eu bem podia ter usado quaisquer dos argumentos pra insistir em ficar, sabe?
Friday, September 08, 2006
"Não é você, sou eu."
Principalmente se a dispensa for coroada com pérolas de pé na bunda como "Não estou pronto para um relacionamento agora", "Preciso me concentar no trabalho", "Você é especial demais e merece alguém melhor do que eu"...são tantas as variações que eu poderia escrever um blog inteiro apenas sobre elas. Ou melhor, decifrando o que realmente querem dizer:
"Não é você, sou eu...QUEM NÃO TE QUER!', "Não é você, sou eu QUE POSSO ENCONTRAR ALGUÉM MELHOR!", "Não é você, é OUTRO!"
Costanza foi feliz até o dia em que ouviu pela primeira vez o "Não é você, sou eu" que ele estava careca (...) de dizer às namoradas que se mostravam inadequadas. O brilhante enunciado só funciona como alento para almas inocentes que nunca fizeram uso desse manjadérrimo expediente. Se você já se safou de alguém com esse papo, sabe muito bem o que está por trás dele. E, ouvindo o mesmo caôzinho, é horrível constatar que dessa vez é você quem simplesmente não serve.
Em tempos de eleição sempre é bom lembrar que política e honestidade nunca andaram de mãos dadas. Principalmente no que diz respeito às relações pessoais. Se você quer preservar a imagem, precisa fingir. Uma mentirinha branca sempre vem a calhar. Para quem fala e para quem ouve. Por mais que a gente viva bradando aos quatro ventos que quer ser tratado com honestidade.
Já pararam para pensar num mundo em que a gente só ouvisse a verdade nua e crua? No mínimo o número de suicídios subiria assustadoramente. A realidade da vida às vezes é dura demais e querer se proteger dela não é um crime, assim, inconfessável...em alguns casos é melhor mesmo se fazer de bobo e evitar entrar em certos detalhes.
Uma amiga muito querida insistiu em cobrar razões consistentes de um namorado que sumiu sem dar nem uma má explicação. Após exigir que ele dissesse que estava realmente tudo acabado e o porque do fim ela recebe um e-mail lacônico de uma linha apenas: "Eu não quero mais". Super sincero. Super doloroso para ela.
O que leva às inevitáveis perguntas: existe mesmo um jeito bacana e decente de terminar um relacionamento? É mais válido puxar o band-aid de uma vez ou prolongar a agonia até que o outro se acostume à idéia? E - perguntar não ofende - é melhor estar na posição de breakER ou de breakEE?
Ah, qual é? Só mesmo quem já passou pela necessidade de dispensar alguém legal conhece a dor da situação. De um lado, a convicção de que aquele sentimento não tem mais para onde crescer. De outro, o medo de abrir mão de uma pessoa que - sabe lá Deus porque - achou de gostar da gente.
Fora que, para o chutado, todos os amigos estão a postos, prontos para levantar o moral e propôr programas que o façam esquecer a ingratidão de quem não lhe deu o devido valor. Para quem teve a coragem de determinar o fim, nenhuma compreensão, nenhuma coversa sobre eventuais dúvidas. Quando não se tem que lidar com o igualmente cruel: "Mas não foi você quem quis assim?"
Terminar sempre é chato, não importa de que lado da mesa estejamos. Tem gente que já desistiu de namorar só por medo desse momento.Não deixo de entender que eles têm mesmo um bocado de razão. Recolho-me à minha modesta insignificância, fecho as portas do consultório sentimental e passo a bola para Beto Guedes e Fernando Brant, cientes das responsabilidades mas confiantes nas compensações:
O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ser, de a todo momento escolher
Com acerto e decisão a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis em nossa casa fechada entrar pra ficar
O medo de amar é não arriscar esperando que façam por nós o que é nosso dever
Recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou o medo nos olhos de quem foi ver :Tanta luz!
Para a precocemente desencantada JeniFFer e para os eufemistas Ril, Fê Guimarães e Renato Roriz.
SERENITY NOW!
Thursday, September 07, 2006
Espíritos no mundo material
"Karma, karma, karma, karma, camaleon
You come and go, you come and go..."
Tem muita coisa estranha acontecendo no mundo ultimamente. A começar pelos efeitos arrasadores desse inverno. Em julho, era praia todo dia. Agora, já no final da estação, um frio que faz com que a gente sinta nostalgia de assento de ônibus suado. Uma loucura! Poderíamos culpar o El-Niño se as oscilações do tempo fossem a única coisa fora de foco nesse quadro...
Nada menos que três grandes relacionamentos de pessoas muito próximas a mim foram para o beleléu de uma hora para a outra. Como num passe de mágica, ela decidiu estudar fora. Do nada, ele passou a se achar muito jovem para casar. E, assim ó...os dois começaram a duvidar de sentimentos que cultivavam um pelo outro há mais de vinte anos.
Nem acho que isso tudo seja triste porque no amor - como na vida- a única certeza que a gente tem é de que vai acabar. Eu mesma tenho vigiado há anos um certo casamento na esperança que ele vire divórcio. Sem jogar negatividade, imaginem! Apenas espreitando o inevitável. Quando a gente se dispõe a amar, sabe que está embarcando num trem com parada agendada. Talvez por isso mesmo, pela consciência da finitude, a viagem seja tão gostosa.
Mas o que me apavora nesses rompimentos em série é a maneira como parecem ter sido geridos durante um daqueles sonhos sem pé nem cabeça para os quais sempre insistimos em enxergar significados premonitórios. É como se a pessoa se encontrasse subitamente influenciada por um espírito obssessor e vingativo. O mesmo fantasma que faz , às vezes, com que os casais se desentendam e se desgastem sem razão aparente. Nunca lembrando o porquê da briga ter começado.
No entanto, nem toda entidade trabalha a desavença. Há casos em que o sobrenatural parece operar a favor do amor. Ao menos momentaneamente. Só pra zoar com a cara da gente.
Certa vez encontrei um heart-breaker da época da faculdade por acaso em Niterói. O maluco me deu um abraço daqueles, quase me quebra todos os ossos. Partimos pra um choppinho e acabou rolando. Depois do primeiro beijo, a alma penada me encara com um brilho nos olhos que eu nunca pensei que alguém fosse capaz de fingir e diz, todo comovido: "Cara, que SAUDADE!"
Fiquei tão confusa quanto você, caro leitor. Sempre imaginei que a saudade fosse um sentimento que se cultivasse na ausência, mas o rapaz conseguiu lembrar que tinha saudades de mim apenas quando me viu. O mais engraçado é que eu liguei para ele umas semanas depois (para matar as saudades, né?) e ele disse, já iniciadíssimo no modo EVITAÇÃO, que estava louco para me ver, mas ocupadíssimo com o trabalho. Palavras finais? Advinhem! "Eu te ligo."
E ligou mesmo. Oito meses depois: "Poxa...você some assim... me abandona..." Hã? Chamem o dr. Alberto que o encosto é poderoso... não julguemos mal o rapaz. Ele pode não ser um moleque. É que tem gente que sob jugo desses espíritos brincalhões já disse muita coisa de que não se lembra.
Fiquei passada, por exemplo, ao saber que a minha amiga mais descolada, a gata mais gata e centrada de Santa Tereza, tava sofrendo por amor. Ela, que nunca deu mole pra vagabundo nenhum, ainda sofre os efeitos de ter ouvido "eu te amo" numa romântica noite de lua cheia.
Teve abraço e brilho no olho também. E o inevitável sumiço. E a bolação recorrente: "onde será que eu errei? Ele parecia tão apaixonado..." Não se torture, amiga! A culpa pode não ser sua. Talvez, como o Mascarado da novela, ele tenha sofrido um acidente e ficado fisicamente deformado, com vergonha de reaparecer feio para a mulher que ele ama. Ou que tenha simplesmente dito aquilo enquanto era feito de boneco por algum erê zombeteiro.
Não posso nem dizer que para mulheres como nós duas, sentimentalmente educadas na tradição troglodita, gestos fofos significam muita coisa. E nem que por causa do passado de namorados ogros a gente tenda a achar viável qualquer homem que puxe uma cadeira ou acenda um cigarro. Não se trata disso, mas sim da perversidade de algumas atitudes absolutamente desnecessárias.
Avisem aos homens que eles não precisam ter tanto trabalho só para levar uma mulher para a cama. A maioria vai porque tá a fim e se não tiver não tem abraço apertado, brilho no olho ou "mentiras sinceras" que convençam. Se a parada tá ganha, amigo, não enfeite o pavão. Ou estarás permanentemente incrito no livro maldito da escrotidão eterna.
Por precaução, eu agora só converso com homens que me interessam munida de água fluidificada e depois de tomar uns bons passes. E nunca mais deixarei um cara desses me abraçar apertado. Parece ser exatamente aí que o Plano Superior desiste de nos proteger...
*
Para o Ary, que me ensinou que "as pessoas são loucas!"
Causar, verbo intransitivo
Os papos são sempre marcados por expressões de uma originalidade deliciosa: se jogar, trampar, rachar o bico, pagar pau...gíria de paulistano ( gente de ação!) quase sempre é verbo e, meu, eu fico de cara às vezes com uma coisa. Por mais que eu tenha uma formação de lingüista, não deixo de me maravilhar ao perceber como o idioma é adaptável ao ponto de algumas palavras, no uso popular, se desvincularem completamente de sua significação primeira. Para desespero dos puristas.Vide o carioquíssimo sinistro.
Demorei um pouco a compreender o sentido do recente uso do verbo causar na fala tipicamente paulistana. Causar sempre foi para mim, verbo que pedia objeto(s). Causa-se algo a alguém. Ou ao menos era assim até que orações como "causei muito ontem na The Week" e "minha mãe adora causar em reuniões de família" passaram a se tornar banais. Com a repetição fui percebendo que causar virou sinônimo de chamar a atenção para si de forma voluntária ou não. O verbo permite conotação positiva ou negativa, dependendo do contexto.
Ontem foi dia de Juliana Paes causar. Jamais saberemos a motivação daquela voltinha ou se ela realmente esqueceu que estava sem calcinha. E, mistério dos mistérios, se esqueceu da calcinha, por que lembrou da depilação?
Acho a Juliana tudo de bom. Linda, chique, simpática, sempre agindo humildemente como se não fosse esse monumento todo de mulher. Alguém que já causa naturalmente. Alguém que já tava causando na (é...) dança dos patins e que não precisava de notinha dando essa foto, né?
Sei lá. Até a Juliana deve, eventualmente, se sentir insegura e carente de atenção. Eu adorei o vestido dela e já tratei de comprar um bem parecido. Da próxima vez que me bater a sensação de prateleira, saio pela Lapa sem calcinha em noite de ventania. Que me aguardem os fotógrafos!
Monday, September 04, 2006
Utilidade pública 3: a mulher rixosa
Desde que, aos meus nove ou dez anos de idade, assisti um daqueles filmes bíblicos de Sessão da Tarde sobre a trajetória do Rei Salomão, a figura do monarca judeu jamais deixou de me fascinar. A construção do Templo de Jerusalém, a genial sacada de ameaçar cortar ao meio um bebê reclamado por duas mães diferentes, a fala invariavelmente debochada do protagonista... nada naquela história parecia com o que geralmente é apresentado numa narrativa épica. Talvez porque Salomão tenha sido mesmo um rei diferente.
Sunday, September 03, 2006
Utilidade pública 2: um pouco de malandragem
Me senti na obrigação de divulgar esse vídeo.
Não desanime se demorar a carregar ou se você simplesmente achar que não passa de uma narrativa banal ou de mera animação erótica para moderninhos.
É importantíssimo que se assista até o fim. Daí é enxugar as lágrimas e continuar mandando para todo mundo que precisa levar a vida com um pouco mais de esperança.
Especialmente dedicado a duas Anas que eu amo: Ana Larissa e Ana Paula.
Valeu, Wans!
Saturday, September 02, 2006
Utilidade pública: eu, Al Capone
As pessoas têm especulado bastante acerca do título que eu escolhi para esse blog. Surgiram até algumas teses interessantes. No momento, as minhas preferidas são: "pra pagar de fodona", "pra ver se aparece um Mr. Big na sua vida" e ( a melhor de todas) "pra me impressionar". Tudo muito muito errado e por isso mesmo tão divertido.
1) Não me acho fodona e o teor dos posts reafirma o quanto eu às vezes me desprezo. Apesar de me amar incondicionalmente.
2) Tem Mr. Big a dar com o pau na minha ficha corrida.
3) Gato Guerreiro, você não está com essa bola toda.
A motivação desse blog ultrapassa a busca por elogios vãos ou meras vantagens pessoais . Na verdade, eu uso esse espaço para dizer às pessoas coisas que eu gostaria muito de ter ouvido há dez anos. Se meu pequeno séquito de mini-mes não pode ser poupado das adversidades da vida, que fique ao menos claro que acontece com todo mundo. E que passa. E que dá pra rir. Apesar de ninguém contar.
Teria feito muita diferença para mim, por exemplo, que alguém tivesse me alertado para a real existência do inferno astral. Aquele mês antes do seu aniversário em que tudo parece dar errado. No meu caso, muito mais errado, já que meu IA coincide como o longo e deprimente mês de agosto. Sempre me senti mal nesse mês de volta às aulas e de contar os 31 dias até o próximo pagamento para estabilizar as finanças depois da esbórnia do recesso.
Inocentemente sempre atribuí meu desconforto ao fato de, com a proximidade da nova idade, todo santo ano eu mergulhar num auto-punitivo processo de avaliação de metas, projetos e perspectivas futuras que, graças a Deus, passa tão repentinamente quanto aparece. Basta que se iniciem os planos para as comemorações para que o maldito inferno astral comece a se dissipar.
A astrologia também prevê dificuldades nos relacionamentos entre nativos de um determinado signo e os nascidos sob a casa zodiacal imediatamente anterior. De acordo com a lógica solar eu deveria passar longe dos leoninos. Penso em Madonna, Robert de Niro, Rick Leo e em como agosto trouxe ao mundo pessoas geniais e me sinto tentada a encarar essa coisa toda de planeta como uma grande patuscada. Não fossem as evidências...
O Leão, para além da perspectiva Zora Yonara, já é em si um animal que se impõe de forma extremamente agressiva. Um bicho tão celebrizado por sua força e superioridade no reino animal só poderia mesmo representar, no zodíaco, um comportamento autoritário e tirânico. E isso de rei, cá pra nós, tem coisa mais egocêntrica? Esqueçam Simba e a singeleza do leãozinho do Caetano porque estamos tratando de uma fera que aniquila suas presas sem dó nem piedade. E que, na qualidade de felino, jamais balançaria a juba ao mar daquele jeito fofo.
Não entendo o fascínio que essa besta grotesca e carnívora exerce sobre as pessoas. Hoje mesmo, na minha turminha de adolescentes do sábado à tarde, o assunto era...bicho. É, também não entendo o que esses autores de livros didáticos têm na cabeça, mas deixa pra lá.
A garotada toda, sem exceção, nunca tinha tido gato, cachorro, periquito ou tartaruga. Os animais de estimação deles são hoje o PC, o ipod e o celular. Mas foi só o cenário mudar e irmos , na página seguinte, para a selva, para todo mundo querer ser leão. Porque é forte, porque trucida, porque manda. Nossa, muito MEDO dessa geração!
Não por acaso o poderoso e arrasador leão acabou virando símbolo, no Brasil, da fúria com que a receita federal ataca a graninha suada de quem não tem como evadir divisas. Confesso, amigos, soneguei. Sabia que era ilegal, mas achei mais correto. Ofereceria meus caraminguás de bom grado se acreditasse que seriam realmente utilizados em prol do bem comum. Intui que a justiça cósmica se encarregasse de proteger a pobre professorinha cujo único pecado foi omitir o bico que faz na rede de bordéis conhecida como Secretaria de Educação de Duque de Caxias.
Vi meus colegas caírem um a um e me alertarem do perigo mas segui confiante de estar milagrosamente protegida das ferozes garras do leão. Quando de repente, não mais que de repente, exatamante aos 31 dias do mês de agosto, último dia do meu inferno astral, com multa e juros ela chega...a conta da minha ousadia, o altíssimo preço a pagar por subestimar a fúria dessa besta assassina.
Não tenho iate nem casa no campo e já sou violentamente descontada no contracheque, mas aparentemente, não tenho alimentado o leão a contento. Ele precisa de mais e mais e, com a subida do PT ( e de uma classe de funcionários públicos trabalhadíssimos nos macetes de sonegação) ao poder , o bicho , lambendo os beiços, não para de rugir e de roer os ossos.
Portanto, fica aqui um alerta. Diante do leão, não tente se esconder. Ele corre mais, morde mais e não há muito o que se fazer além de se entregar inerte ao banquete. Do contrário, a fúria sanguinária do bicho pode também arrebatar a sua alma.