Quem me conhece sabe que a coisa mais próxima de vida matrimonial que eu experimentei nesse fero, seco e estéril caritó foram os dois meses em que dividi casa com meu irmão.
Lavei cueca, reclamei de tampa do vaso levantada, chorei de ver meu iogurte light ser consumido como água, a toalha molhada na cama e os tênis espalhados pelo minúsculo apartamento.
Sim, senhoritas sonhadoras. Conheci apenas o pior do casamento. Sem sexo e sem cobertor de orelha. Mas acima de tudo, devo confessar, aprendi muito. Aprendi horrores. Cada dia uma lição. A cada lição uma revelação mais surpreendente sobre o peculiar e obscuro universo masculino.
Sem esconderijos ou subterfúgios à mão, maninho e eu basicamente compartilhamos nossas vidas sentimentais durante dois meses. Já que eu ouvia todos os telefonemas, ele não podia escapar de opinar a respeito do figurino de sábado à noite.
Aliás, eu vi o mano marcar com duas gatas no mesmo dia e só na hora decidir qual das duas oferecia o melhor programa. Eu até entendia a indecisão, mas o critério não entrava na minha cabeça. Fulaninha era mais gostosa, mas cicraninha tinha amigos mais divertidos. O mais intrigante era ver a mocinha relegada a segundo plano ligando no dia seguinte quase que pedindo desculpas por "ter entendido errado, por ter achado que eles tinham marcado cinema, que tava certo..."
Mas bacana mesmo foi quando ele começou a dar pitacos nos meus relacionamentos (tá....força de expressão). Uma noite eu ia receber uma visita especial e pedi que ele vazasse do ambiente por algumas horas e que tirasse as tralhas dele do caminho que eu não queria que o bofinho visse aquele chinelão ali no meio da sala. Mano me olhou a um mesmo tempo penalizado e divertido: "Deixa, vai te valorizar...mulher de outro é sempre mais interessante!"
Hã? Essa aula eu fiz questão de gravar para rememorar depois. Ela era a conclusão de uma preleção anterior sobre uma mulher "NUNCA, jamais, em tempo algum" poder ligar para um homem em que estivesse interessada. Sim, é assim que pensa um macho de vinte e poucos anos. Igual ao macho de vinte e poucos anos de cem anos atrás que, invocando as mais toscas teorias deterministas, bradava aos quatro ventos que o homem era caçador, que a mulher cuidava da caverna passivamente , que a puta-que-o-pariu e o caralho-a-quatro, etc.
Mas minhas aulas preferidas mesmo aconteciam durante a exibição das comédias românticas às quais ele era obrigado a assistir comigo. No começo ele se irritava, mas depois passou a se divertir com uma espécie de jogo dos dez erros entre um suspiro e outro da mana.
A fala dele sempre começava com uma sonora gargalhada. Daquelas bem gostosas, sabe? Aí começava o bombardeio: "Mas isso é im-pos-sí-vel!"..."Um homem NUNCA vai levar a sério uma mulher que deu no primeiro encontro"..." Um cara NUNCA vai assumir o filho de outro"... "Porra, só sendo muito otário pra levar tanto toco e continuar insistindo. Com tanta mulher disponível, o que ele quer com uma mulher complicada dessas?"... Assim a dura e fria verdade foi se desenhando diante de mim acompanhada de uma igualmente cruel constatação: "Por isso você não se acerta com homem nenhum...tá querendo um sujeito desses? Que vai te esperar pra gozar junto? " E toma-lhe gargalhada!
Um dia ele me pediu pra ver um filme romântico com ele. Mano me levou na lábia vendendo o suposto "conteúdo educativo" da fita que mostrava as relações amorosas a partir de um ponto de vista masculino. Então tá, né? Vai ser bom saber com que os homens sonham, seus desejos, suas aspirações... até que diante de mim, no meu próprio vídeo cassette, começa a ser reproduzido o clássico-porrada O GRANDE DRAGÃO BRANCO, com Jean Claude Van Damme no melhor/pior da sua forma.
Sem entender nada e devidamente "shooshada" pelo mano ( que é fã de verdade desse filme) consegui resistir até a primeira sensacional aparição do mega-vilão Bolo Yeung na cena em que ele massacra o companheiro cabeludo do Van Damme e imortaliza aquele gesto com o dedinho fazendo que vai cortar o pescoço: "Você é o próximo!"
Mano: "Entendeu? Entendeu?"
Aparentemente a cena é uma piada corrente entre os colecionadores a quem meu irmão se associou ao longo da vida. Trata-se de uma metáfora para o tratamento que, na visão desses jovens brutos, todas nós merecemos. O lance é aniquilar uma mulher e já mirar na próxima sem jamais olhar para trás. E ai daquela que oferecer competição. A regra é clara: "Você quebrou meu recorde? Então eu vou quebrar você!".
"Simples assim, mana...é instinto".
Será mesmo? Comecei a duvidar do meu shidoshi , que podia bem ser decente se não tivesse tanto medo de se machucar. Daí que ele achasse melhor bater do que levar. A piada para mim acabou ali porque eu me vi estirada nesse ringue maldito gritando: "Maaa-têee!".
É preciso mesmo ser assim? Homens e mulheres precisam mesmo resolver tudo na porrada? Como ficamos eu e a minha natureza pacífica nesse contexto? Fora do torneio? Eu hein... prefiro sair apanhada a ser eternamente lembrada como uma serial balançadora de peitos que nem olha direito na cara dos competidores.
E não nos esqueçamos, meninas. No fim das contas, quem "kick ass" mesmo é o Frank Dux. Chong Li acaba na lona. Por mais que amedronte.
***
Esta versão do que deveria ter acontecido na grande final do KUMITE é cortesia dos meninos que ainda mantêm a fé inabalável nos poderes de Bolo Yeung:
17 comments:
Re-lo-ou, enlouqueceu, mona? Acorda, the wonder, o sonho já acabou! O negócio é ser sniper, minha filha, segue os conselhos do teu irmão. Só assim pra conhecer outro lugar além da lona!
Ps: amei, amei, amei!
É, Ana, acho que a expressão "a fila tem que andar" adquire, sob a luz desses esclarecimentos, um tom ainda mais cruel...
E Jeni...cadê o teu?
Amei Batalha! Tenho q dar um jeito de arrumar um irmao postiço q assista comigo todas as comedias romanticas e me traga p/ o mundo real!
beijo, ta de parabens!
Odeeeeio qnd eu escreve uma porrada de coisa e a internet da pau!afff!
tirando o stress inicial amiga, seu blog está otimo!
O q eu queria agora era um irmao postiço p/ me dar muitas dicas nas comedias romanticas e me trazer p/ mundo real, igualzinho o seu mano!
parabens, ta dez!
esse blog eh mais facil de se acompanhar do q a 8 temporada, mas nao espalha ta?rs
hahahaha
agora q etnendi, meu post nao aparece pq vc eh q tem q autorizar!
anta q eu sou! deleta esse e um dos outros dois ta?
beijo again
Ril, meu irmão é um gato e acho que ele pode ser bem mais útil a quem não tem laços sangüíneos com ele...hehehe
AMMMMMEEEEEIIIIIIIII!!!!!!!!!!!
Muito bom esse post!!!
bjs,
Sy
Valeu, Syrena, mas quem é vc? Bjs
Ô garota mal educada! É amiga de Mari!
oi, andréa. sorte que pra toda regra tem exceção, né? meu maridinho é tudibão e não preenche o perfil mainstream de macho que a gente conhece. bom, mas ele já tem 46 e é o meu segundo. eu sou a terceira dele. deve ser por isso...
agora, off topic: tenho a impressão de que você estudou com a minha irmã, andréa cerdeira. se não foi você, eu devo estar muito mais esclerosada do que imaginava... muito bom teu blog, voltarei. bjs
Olha, Cris...sob o risco de desconstruir minha narrativa ( mas aqui tudo pode ser mentira mesmo), meu mano-gato-mestre já chorou de amor nesse ombrinho, sim. A perspectiva Chong Li é só uma fase, sempre dá para vislumbrar uma folga na pancadaria pra fazer de um desses homens um cara de família. Parabéns a você que já conseguiu!
Agora quanto ao OFF, eu não lembro do nome. Ela fez UFF?
Bjs e obrigada pela visita!
ela fez uff, sim, português-espanhol. mas havia outra andréa na turma, a paraquette, então, de repente, eu posso estar a me confundir... (o que não seria nenhuma novidade!)
Eu fiz por-ing entre 92 e 96.
A gente pode ter se esbarrado, sim. Bjs
Syrena, já tem anônimo punheteiro fuçando por aqui também. Meu primeiro stalker. U-hu!
Oi! Legal seu blog!!!
Especialmente "No Tatame".
São os abismos entre o que pensamos e o que pode passar na cabeça de um homem.
Abraço!
Post a Comment