Um amigo meu surgiu com uma expressão fabulosa para designar aqueles revivals de relações antigas que acontecem em momentos em que o universo parece conspirar contra qualquer chance de se conhecer alguém novo. Basicamente, se a fila não anda, a tendência é que ela retroceda mesmo. Por pura "falta de assunto".
Não que isso seja de todo mau. Em momentos de privação total (de sexo e de bom senso) é bom relembrar o conforto de um carinho conhecido, de uma intimidade qualquer...afinal, como diz a canção, "paixão antiga sempre mexe com a gente" e não nos faltam exemplos de belos romances que adquiriram liga definitiva após uma recaída em período de seca e de ocasional falta de assunto: Ross e Rachel, Edmundo e o Palmeiras...mesmo a volta de Sonia Braga às novelas parece motivada por essa mesma sensação de vazio, um pressentimento chato de que nada vai acontecer aquele dia.
A falta de assunto é corriqueiramente conhecida por nomes igualmente criativos: foda fixa, pau amigo, peguete, ficante. É uma síndrome que já acometeu mulheres do quilate de Liz Taylor ( casada duas vezes com o mega-gato porém alcoólatra Richard Burton) e que já foi cantada por Gabriel, o pensador em versos tocantes como "tá na hora de molhar o biscoito".
No entanto, nada é tão representativo desse fenômeno da vida moderna quanto algumas trocas de scraps pelo Orkut:
"Te achei. Te add. Tá morando lá ainda?"
"Não, tô morando sozinha agora."
"Isso é bom, hein?"
É claro que na qualidade de mulher-talismã, alguns luxos e lixos me são negados. Todo ex- qualquer coisa que eu encontro pelo Orkut casou ou tá namorando firme. Muitas vezes engataram relações imediatamente depois de mim. Não entendo bem o poder devastador do fator Andrea, mas preciso encarar esse dom como uma benção, como se eu pudesse, de alguma forma tocar os corações duros de homens que, sem passar por mim, estariam fadados à solidão eterna.
No meus scrapbook pinta coisa mais ou menos assim:
"Ah, não vai dar pra ir ao seu aniversário. É aniversário do Bruninho também, lembra? Dois anos!"
"Não perderei essa festa. A Lu tá louca para te conhecer. Falo muito de você para ela."
Eu fico cá comigo imaginando o que é que ele fala de mim para ela: "Ah, depois que eu conheci essa maluca resolvi que é melhor dar um tempo, o mundo das relações sem compromisso anda muito perigoso...". Enfim, reencontro via Orkut quase sempre acaba na constatação de que você não tem mais mesmo assunto algum com as pessoas que você beijou no passado. Ou mesmo com sua ex-turma de escola.
Aliás, a Warner produziu uma série muito badalada sobre um desses grandes reencontros. Apesar do mega-lançamento digno de toda pompa e circunstância, Reunion não passou do décimo terceiro episódio e nunca saberemos quem matou Samantha. O pior, que me perdoem os fãs, é que nem dá para se importar. A trama era instigante até mais ou menos 1991, mas depois dali a coisa foi caindo num marasmo sem tamanho.
Relacionamentos requentados são meio como Reunion. No começo parece perigoso, misterioso e eletrizante, mas quando vira rotina, há um grande risco de que a dignidade se perca no processo. Há que se manter alguma esporadicidade ou acabamos por nos flagrar, numa tarde de tédio, a procura de grandes significados onde a única explicação é a total e absoluta falta de assunto. Melhor mudar de canal correndo!
Essa conversa me leva a um daqueles momentos definidores na fila do supermercado, onde um interessantíssimo espécime masculino me olhava de maneira ao mesmo tempo curiosa e divertida: "Você não mudou nada...". Diante de mim, "an affair to forget" que eu não via desde o século passado e a quem os anos trataram muito bem.
O fato de termos nos tornado vizinhos levou naturalmente ao carioquíssimo "a-gente-tem-que-se-encontrar-pra-por-o-papo-em-dia". Silêncio. Risadas nervosas. Silêncio. Diante da evidente falta de assunto dentro e fora daquela conversa, liberei meu telefone para dar um fim ao constrangimento mútuo.
E assim deu-se início à mesma tediosa reação em cadeia. Acho que "eu te ligo" é a sentença mais feia, deplorável e entregadora de poder de toda a língua portuguesa. O pior da falta de assunto nem é ficar postando listinhas idiotas em blogs, mas conseguir se sentir rejeitado por alguém com quem você nem se importa de verdade.
Ah, esqueci de dizer, ele ficou lindo mas continua um chato!