Wednesday, December 13, 2006

Procrastinators United

Dezembro é igual a último capítulo de novela.
Depois de meses de enrolação a gente se vê subitamente diante da urgente necessidade de resolver milhões de coisas poderiam ter sido tranqüilamente decididas sem a afobação e o stress tão característicos daquela hora fatal em que percebemos que o ano passou e que nada de realmente útil ou transformador foi feito.

Olhar para trás é lembrar que uma boa parte do tempo foi passada em engarrafamentos, embaixo do chuveiro, escolhendo roupa pra sair, ou – horror dos horrores! – a mercê do SAC da sua operadora de celular. E é justamente nessas pequenas tarefas que a gente começa a se perder.
Se há provas a corrigir, a faxina se torna inadiável. Se a pia está cheia de louça é imperativo que se adquira o detergente certo no mercado. E quando no caminho de volta pinta aquela idéia genial para a aula de segunda-feira , diante do computador, só dá vontade mesmo é de editar fotos ou responder e-mails recebidos há mais de um mês. Mesmo este post aqui, confesso, eu já vinha pensando há alguns dias, mas...bom, vocês sabem.

Das pequenas para as grandes coisas a gente se flagra, numa tarde de outono, pensando no que foi feito dos nossos sonhos de adolescência e daquele futuro brilhante que todo mundo um dia já possuiu. Eu tive meu futuro promissor ali pelos três minutos finais da graduação. Acreditaram que eu fosse uma promessa acadêmica e isso foi uma verdadeira maldição na minha vida. Passei uns bons anos pensando em tudo o que me faltava para concretizar as expectativas alheias. Geralmente os dias se sucediam entre a tortura pelo que não foi feito ontem e tudo o que faltava fazer amanhã.

Até que um belo dia você se dá conta de que todos os artistas e pensadores que você admira produziram o melhor da sua obra quando eram muito mais jovens que você e então a ficha finalmente cai: não dá mais tempo! Daí para descobrir que o seu ex-futuro promissor provavelmente não faria a menor diferença para a humanidade é um pulo.

Não, não precisa ser uma tragédia. Pode ser até libertador. Só na mediocridade de um cotidiano sem grandes planos a gente pode apreciar sem correria algumas coisas muito gostosas da vida como um dia de sol ou o telefonema de um amigo distante.

A máxima horaciana Carpe Diem – erroneamente invocada pelos diligentes para apressar toda espécie de atividade chata e perfeitamente adiável – tem a ver justamente com isso: abocanhar cada minuto como uma fruta madura que pode estar podre daqui a pouco.

Menos Benjamin Franklin e mais Ferris Bueller. Sei lá, "lixe o assoalho" por mais um tempo. Os orientais não sabem de tudo?

So...join the club!


14 comments:

Anonymous said...

Com certeza faço parte desse clube. A fase mais difícil da minha vida foi quando na pós adolescência tive que decidir o que fazer na faculdade: a) Algo que me desse prazer; b) Algo que me desse emprego; c) Algo que primeiramente me desse emprego e depois poderia optar pelo prazer; Escolhi a letra A. O que eu não sabia, é que o escolhido fosse ser tão esmagador pra mim. Antes tivesse escolhido a letra o b.

Ana said...

Antes tivessemos suado a bunda numa academia. Pelo menos mais dinehiro a gente faria hoje...

anouska said...

eu tô empurrando tudo coma barriga. não quero nem saber de fim de ano, tô porrr aqui com tudo. quero dormir e acordar depois do carnaval, de preferência dentro de um avião no aeroporto internacional... bjs

Anonymous said...

Perdi uns bons minutos pensando no que escrever e não achei nada interessante pra dizer. Deixa pra depois. PS: gostei do blog. Volto mais vezes.

Anonymous said...

Divino comentário!

Também voltarei mais vezes...

Bjs

Anonymous said...

É uma porcaria mesmo essa sensação de que não foi útil...De que poderia ter produzido mais.Não sei se é a proximidade dos 30 ou o final de ano mesmo,mas ando pensando muito nisso:Provavelmente não sou nada daquilo do que imaginei ser.Enfim,tenho feito o que posso.

Saudades de comentar aqui.

Beijos,menina.

mi said...

É... De tudo o que falou, o que mais me angustia é perceber que "todos os artistas e pensadores que você admira produziram o melhor da sua obra quando eram muito mais jovens que você", ou que pessoas muito mais jovens que vc são mais sucedidas e ganham muito mais... Mas, embuídos do espírito piegas de final de ano, vamos pensar que nunca é tarde e "tudo, tudo, tudo vai dar pé. No woman, no cry"...

Andrea said...

Mas lembra do que eu falei , MI: pode ser macanaimicamente libertador assumir uma certa preguiiiiiiiiiiiiiiça!

Anonymous said...

Andra, faz dois dias que tento parar aqui para comentar! A minhavida está como você escreveu, tudo em ritmo acelerado, tudo ao mesmo tempo! Fim de ano é uma loucura mesmo! Mas eu gosto desta época, da espera do ano novo!

Beijos

Ah, vi que você colocou o link do meu bloguinho! Obrigada!

Anonymous said...

belíssimo texto. realmente é uma época que achamos sempre que é agora ou nunca. beijos, pedrita

Anonymous said...

Cheguei aqui por acaso, pelo blog da Patry, e adorei esse texto seu, ja pensei muitas vezes assim.. e ainda penso.
Por isso hoje é Carpe Diem, ou traduzindo para nosso portugues, ligue o F.. e seja feliz!
Um abraço!

trela said...

todos os meses estao passando rapido demais pra mim.

Fê Guimarães said...

Quando comecei a ter esses pensamentos sobre a minha vida, simplesmente olhei para os lados e via que 95 por cento das pessoas que me cercam (pra ser muito otimista) estavam na mesmíssima situação. Cheguei à conclusão que se ficasse dando murro em ponta de faca esperando que as coisas mudassem, não aproveitaria o que estava diante de mim. Que pode não ser muito, ou tudo que um dia eu possa ter sonhado, mas que, na maior parte do tempo, tem me feito feliz...

Andrea said...

Era mais ou menos disso que eu queria falar , Fer....muita gente se enterra na merda procurando uma idéia de felicidade totalizante que na verdade não existe. E com isso a vida ( e seus pequenos e grandes momentos ) vão passando sob a sensação de não se estar vivendo DE VERDADE.

Mas viver não é isso?